“Uma leitura, uma partilha de opinião” é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!
A Sublime Arte de Envelhecer de Anselm Grun
Comentário de
Rui Bingre
Voluntário do Projeto Velhos Amigos em Leiria
Anselm Grun é monge beneditino, responsável financeiro da Abadia de Munsterschwarzach na Alemanha e, segundo a Wikipédia, “autor de aproximadamente 300 livros com foco na espiritualidade. Dos seus livros, mais de 15 milhões de cópias foram vendidas em 30 idiomas” (!) e tinha 64 anos quando escreveu este livro. Estes pormenores biográficos são importantes para uma melhor compreensão do livro.
Logo nas primeiras páginas duas frases lapidares que me atrevo a classificar de indiscutíveis (“A nossa vida só é bem sucedida se aceitarmos o processo de envelhecimento”) e (“O Homem envelhece por si só. Mas o facto de envelhecer com sucesso depende apenas dele próprio”), prenderam-me a atenção suscitando-me a pergunta “o que devo, então, fazer para envelhecer com sucesso?”. Note-se, pela biografia do autor do livro, que fiz esta pergunta (via leitura do livro) a um homem com uma extraordinária envergadura intelectual e espiritual.
As respostas que encontrei são sensatas (“a vida não se constrói sozinha”), motivadoras (“sábio é aquele que gosta de si próprio e faz com que gostem de si”) e muitas outras de igual mérito. Acresce que o tom geral do livro não é, felizmente, de “guru da felicidade”, longe disso! A proposta de Anselm Grun é a da vivência da velhice como uma caminhada tranquila mas exigente na “capacidade de aceitação da própria existência” (reconciliação com o passado, aceitar os seus próprios limites, aprender a viver com a solidão) da “renúncia” (renunciar aos bens materiais, ao poder, ao ego, etc.) e no “cultivo das virtudes da velhice” (serenidade, paciência, liberdade, gratidão, amor, etc.). É um caminho difícil (o próprio Grun diz-nos que nos seus 64 anos ainda não se sente capaz de os cumprir integralmente) e que, na minha opinião, talvez esteja facilitado para quem viva numa profunda envolvência do pensamento cristão, sem prejuízo, no entanto, de ser igualmente exequível fora desse contexto religioso. O livro provoca e merece uma reflexão cuidada. Mas imaginem, caros leitores deste artigo, que a minha próxima leitura, já planeada antes de ler Anselm Grun, tem como título “Que se Lixem os 70, Guia para (os) Viver Bem” do distinto médico Muir Gray, editora IN. Parto para essa leitura como parti para a anterior: de espírito aberto. Espero um choque de diferenças entre ambas as visões da velhice. Não sei qual das duas me influenciará mais, mas provavelmente ficarei a meio do caminho, não por virtude minha mas porque nos meus 67 anos ainda não me sinto capaz de cumprir a proposta de Grun e, provavelmente, não terei a disciplina e a vontade necessárias para ser o jovem de barba branca e saltitante da capa do livro de Gray. Fica-me a esperança que este gosto de continuar a buscar respostas seja uma pequena alínea de uma sublime arte de envelhecer.
A Sublime Arte de Envelhecer
Anselm Grun
Paulinas Editora, 2011
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