Notícias

Medronho, entre sonetos e o escarlate antioxidante de um fruto exuberante!


É de inverno e tem cores notáveis que vão desde o verde esperança (essa ESPERANÇA que tanto precisamos para sacudir esta pandemia); passando pela cor laranja que enaltece prosperidade, força, coragem e ousadia. Já mais para o final, antes de podermos degustar o seu esplendor aromático, o Medronho, fruto do Medronheiro (Arbutus unedo L.), esta pequena e maravilhosa baga, ostenta o seu vermelho rubro de paixão, um escarlate inconfundível repleto de poder, de energia e sedução. Eugénio de Castro (Coimbra, 1869 —1944) dedicou-lhe a Mantilha de Medronhos, que retrata uma das suas viagens a Espanha numa das suas obras de sonetos, tendo logo no poema de abertura arrematado com “Olé, olé, salero (pequeno-almoço)! … de medronhos compus a mantilha/para alindar com ela a minha Musa: Portuguesa, parece uma andaluza/envolta em xaile de Manilha”. Segundo Carvalho J.A. (2007), este poeta Conimbricense do Séc. XIX, terá usado esta paleta de cores do Medronho para relacionar a sua paixão pela pátria mãe, nomeadamente as cores vermelho rubro do fruto e o verde das folhas. Terá ainda, no mesmo andamento de sonetos, usado este delicioso fruto mediterrânico para sugerir a cor dos lábios de uma mulher, curiosamente não espanhola mas inglesa, que terá encontrado em La Alhambra “tez albirrosada, /louras tranças…, não trazia mantilha…”.

Talvez o Professor, Doutor em Letras, Eugénio de Castro não soubesse à época em que lecionava na Universidade de Coimbra, que deste fruto brotam prolixos, atributos químicos apenas comparáveis aos mais notáveis frutos vermelhos e bagas que encontramos em poucas geografias do mundo. É todo um manancial de ácidos orgânicos, uma luxúria de compostos bioativos com atividade antioxidante, de fibra e de açúcares gulosamente simples e complexos. São os aclamados e aplaudidos ómega3, as prestigiadas vitaminas C e D, entre muitos outros que o léxico encomendado não chega para os retratar.

Descubra-o, porém, no seu arbusto, nos ecossistemas que circundam a urbe, nos morros e nas cordilheiras, nas passeatas higiénicas ou nas corridas frenéticas. Descubra-o nas tardes bucólicas de outono enamoradas de vermelho rubro que cai sobre o horizonte, descubra-o num voluptuoso Medronho de intenso vermelho…, ou nos lábios escarlates de uma musa…, descubra o Medronho!


Autor
Rui Lopes
Voluntário da ATLAS. Nutricionista apaixonado por Medronhos

Coloque um comentário