Este é um espaço de partilha entre voluntários e voluntárias da ATLAS. Aqui descobrimos o que andam a ler, quais as suas reflexões e sentimentos. Estão todos e todas convidadas a deixar comentários ao artigo no fim desta página!
A longa caminhada, Slavomir Rawicz
Estalou uma guerra aqui há dias. Uma guerra mesmo. A Rússia invadiu a vizinha Ucrânia. Esta é a nossa nova realidade, quer queiramos quer não. É claro que não queremos porque os que sofrem as consequências das guerras são os que nada têm que ver com elas: jovens, idosos, mulheres, crianças… Espero que se escreva pouco sobre esta guerra. Seria um bom sinal.
Já a história da Longa Caminhada passa-se noutra guerra: Numa Grande Guerra: a da Segunda Guerra Mundial. Centra-se na divisão da Polónia entre a Alemanha e a então URSS e a captura de um oficial polaco pelo exército vermelho em 1939. Após a sua captura terá de passar por várias sessões de tortura, às quais resistiu, apesar de ser sempre persuadido pelo exército russo a fazer-se de culpado, assinando todos os papéis que lhe eram apresentados. Recusou sempre apesar das sessões de tortura, mas a certa altura apresentaram-lhe um papel assinado que o culpabilizou e que o condenou a 25 anos de trabalhos forçados. Slavomir Rawicz achou que sempre seria melhor do que uma cela.
A primeira viagem fez-se de comboio, pela linha transiberiana em condições infelizmente já muito retratadas em filmes como A Vida é Bela ou A Lista de Schindler. Os prisioneiros passageiros iam completamente colados entre si, quase sem poder respirar. Não tinham como aliviar-se, a não ser ali mesmo. Gritavam por água e muitos desmaiavam.
Depois do comboio seguiu-se o camião que rasgava por entre a neve.
Nos campos, os guardas aguardavam qualquer possibilidade de fuga para atirar a matar, mas foi isso mesmo que Rawicz e um grupo de seis tratou de organizar. Conseguiram fugir um ano após a sua captura, levando consigo pouco mais do que a sua roupa e a certeza de que não estariam em segurança enquanto estivessem em território russo. Rumaram à Índia britânica, mas tiveram de enfrentar as regiões inóspitas do Tibete e da Mongólia.
A caminhada foi feita em condições adversas. Foi longa e árdua e só a esperança e também o desespero os acompanhavam. Na Mongólia enfrentaram uma praga de gafanhotos. No Tibete montanhoso e gelado perderam um dos companheiros, o lituano.
Só cinco chegaram à Índia. Viajar para eles era uma verdadeira obsessão. Caminhar só podia ter fim quando encontrassem segurança. Na índia, foram restituídos aos seus respetivos países de origem.
Esta é uma história de coragem e de determinação assim como de trabalho de equipa que serve de testemunho de um dos períodos mais marcantes da história.
Autor
Celina da Costa Gameiro
Voluntária ATLAS, no projeto Velhos Amigos em Pombal
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