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Natal em São Tomé


Quando pensamos no Natal, imediatamente associamos, para além do nascimento do Menino Jesus, o frio, o aconchego, a família, as luzes e os presentes. E quase não conseguimos imaginar que possa ser vivido de outra forma para além daquela que conhecemos. E se não houver frio? E se não houver presentes? E se as luzes de Natal não existirem? E se a família for imensa e não houver um espaço onde caiba toda?

Em São Tomé não há frio. Muito pelo contrário, o Natal acontece numa época do ano em que a temperatura aumenta. O aconchego é, por isso, mais de ordem emocional, pois não existem as tradicionais lareiras à volta das quais se reúne a família. As luzes de Natal, compradas na loja do chinês, espalhadas pela cidade, são ligadas todos os dias do ano, quando há energia elétrica, e servem de iluminação pública. Os presentes existem nas famílias mais abastadas, mas nas outras é algo em que não se pode pensar. E nas ruas não há enfeites, presépios, árvores e músicas de Natal.

Mas a família…tem membros a perder de conta e, sempre que possível, junta-se para partilhar a refeição do dia de Natal. No entanto, o problema é como reunir tanta gente. Problema? Xé, problema! Sobem todos para a carroçaria de um camião, levam bancos, panelas, toalhas, pratos, talheres, ingredientes, pratos já confecionados, e instalam-se numa praia. Aí cozinham o que falta, nomeadamente o peixe, a banana e a fruta-pão grelhados e festejam à volta da mesa, com música africana em volume quase proibitivo. Levam pratos tradicionais tais como o calulu, feijoada da terra, feita com peixe seco, caril, cachupa, bebidas e alguns doces. Há histórias contadas pelos mais velhos e o espírito africano não resiste à dança. As crianças correm de um lado para o outro e pode até haver um banho no mar.

O mundo é apenas um, cheio de diversidade, de tradições e hábitos diferentes. Tudo isso só nos enriquece enquanto seres humanos e abre-nos horizontes para valorizarmos a vida, o amor e a paz. Pena é que o excesso de algumas sociedades não possa ser partilhado com a escassez de outras.

Autora:

Helena Jesus

Voluntária nos Velhos Amigos

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