A pandemia chegou já há mais de um ano e instalou-se uma avassaladora instabilidade em todas as áreas da nossa vida, incluindo nos relacionamentos.

Nos últimos tempos temos sido assoberbados de notícias como: “A quarentena pode fragilizar os casais”, “A quarentena prolongada faz disparar taxa de divórcios”, “Como salvar o meu casamento durante o tempo de pandemia?”… Mas afinal o que está a acontecer? Haverá alguma forma de contrariarmos essa tendência?

Ora vejamos… Anteriormente à pandemia, passávamos dias e dias “embrulhados na correria do dia-a-dia”, queríamos ter tempo para pensar em nós, queríamos ter tempo para pensar nos outros, queríamos ter tempo para parar um pouco e não conseguíamos. Entretanto, a nossa rotina sofreu grandes alterações com a chegada do tão (des)conhecido COVID-19. Foram mudanças que se fizeram sentir em casa, no trabalho, nos nossos relacionamentos interpessoais e entre tantos outros aspetos das nossas vidas.

Em muitos casos, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, a ter de conviver mais tempo com o seu parceiro, a ter de gerir o espaço em casa entre a presença quase constante dos filhos e o espaço para a intimidade como casal, entre outros desafios.

A presença constante de ambos os membros do casal, a ansiedade, a angústia, a preocupação, o medo do desconhecido, são tudo situações e sentimentos que podem interferir negativamente com o bem-estar do casal.

Durante este tempo, pode verificar-se uma maior predisposição para o aparecimento de conflitos e uma maior dificuldade em estabelecer momentos de maior intimidade.  No sentido de contrariar esta tendência e de fomentar a resiliência de ambos os membros do casal gostaria de deixar algumas dicas e reflexões:

  • Dê espaço ao seu parceiro! Mesmo dentro da mesma casa, é importante que ambos os membros do casal possam ter o seu próprio espaço, os seus momentos a sós… O sentimento de controlo e de “sufoco” só irá agravar os momentos de discussão que possam já existir e outros que nunca existiram e que começam agora a desencadear-se.


  • Não se esqueça de respirar fundo e parar para pensar antes de dar um par de berros, fazer acusações ou assumir uma postura agressiva. Questione-se primeiro interiormente: “Porque me estou a sentir assim?” e “O que eu gostava que fosse diferente?”.


  • A capacidade de tolerância e de autocontrolo são também imprescindíveis nesta fase. Evite os ataques pessoais, evite a escalada de tensão que não tem por onde “explodir” ou que se explodir pode levá-lo a um rumo que não era de todo o que pretendia, mas que não conseguiu controlar a tempo.


  • A capacidade de pedir desculpa é fundamental. Lembre-se, ninguém é perfeito, e tal como você também o seu parceiro está a lidar com uma fase nova de adaptação. Tentem encontrar o melhor projeto de adaptação juntos. Partilhem dúvidas, medos, receios, soluções, planos de vida a curto e a longo prazo …


  • A comunicação pode revelar-se a maior arma terapêutica para os casais durante o tempo de pandemia, tal como durante todos os tempos das nossas vidas. Os casais que já tenham dificuldades de comunicação, poderão nesta fase enfrentar um período ainda mais difícil. Se for o caso, não deixem que chegue a um ponto de não retorno, procurem ajuda especializada.


  • Não se esqueçam que há gestos tão simples como o toque, o abraço e o carinho que conseguem por si só, muitas vezes, “fazer verdadeiros milagres”.


  • Evitem passar horas agarrados às redes sociais; estipulem um horário a partir do qual é proibido agarrar no telemóvel.


  • Mantenham rotinas saudáveis, estipulem os dias para a prática de atividade física em conjunto, um dia por semana para o “o vosso momento romântico” e estabeleçam rituais de relaxamento e conexão.


  • Cuidem da vossa casa em conjunto e partilhem as tarefas domésticas, sendo flexíveis com as 1000 tarefas que possam surgir.

O tempo passado em quarentena tende a intensificar as emoções. Não se esqueça, o segredo de um bom relacionamento tende a estar no equilíbrio. Reinvente a sua forma de amar e de perdoar, encontre um novo equilíbrio, vença novos desafios e descubra momentos únicos que o seu relacionamento ainda tem para lhe proporcionar.


Autora
Catarina Fortunato
Tem 29 anos e é natural da Maceira, com fortes laços familiares com a Marinha Grande. 
É Mestre em Medicina, Catarina é Médica Interna de Medicina Geral e Familiar em Aveiro, dispondo de dupla especialização de Sexologia e Terapia de Casal.