Imprensa

A senhora que folheava revistas de moda

Uma senhora, de idade avançada, veterana na vida, ocupava uma cadeira num recanto de um cabeleireiro. Parecia esquecida como um candeeiro baço ou como a própria cadeira que ocupava, como se não tivesse vida. E ela que tinha tanta! Ao seu lado, no chão, repousava a sua bengala, a sua perna mais nova, mais firme, que lhe permitia o apoio nos movimentos.

O seu cabelo de neve escorregava por baixo de um barrete preto, que tapava o frio e os fios finos. Também tapava a vaidade que, a partir de certa idade, passa a ser uma raridade. A sua cara riscada de linhas exibia uma cor clara, porém manchada aqui e acolá. A sua silhueta pesava para a sua idade, por isso o recurso à bengala e à cadeira. Os seus olhos, tapados por umas cortinas espessas espelhavam doçura e apenas deitavam brilho.

Depois de pegar na sua bengala e de a encostar junto a si, fixou os olhos numa revista colorida. Quis entreter-se. Queria ver que fotografias mostrava do mundo. Pegou nela, com a sua mão já um pouco trémula, e começou a fazer passar as páginas pelos dedos. As caras eram todas lisas e cobertas de cores diversas para realçar os olhos e os lábios. Havia cabelos que deslizavam, outros que saltitavam e ainda outros armados em trabalhos elaborados.

As roupas eram vistosas e coloridas e deixavam adivinhar silhuetas todas magras, firmes e jovens.

Folheou a revista até ao fim e depois apenas disse:

– “Isto é só para os novos!”

E era. Também a revista parecia esquecer-se dela com aquela idolatria toda ao corpo jovem, modelado. E as outras revistas pareciam ser todas iguais. Não havia nenhuma que apresentasse silhuetas mais frágeis e mais volumosas. Não se vislumbrava qualquer sinal de cabelos brancos e finos. Nenhuma procurava embelezar uma cara riscada de rugas. Nenhuma sequer procuraria retratar um sorriso verdadeiro, daqueles que só vêm das pessoas que só se riem quando querem.

Depois de proclamar a sua crítica, atirou a revista para dentro do cesto (de onde tinha saído) e continuou na sua cadeira. Sentada. À espera.

Ninguém ligou. Ninguém ouviu. Continuou tudo na mesma. O secador continuou a alisar cabelos com a ajuda das escovas e as conversas acompanhavam a imagem que ia aparecendo no espelho.


Autora
Celina da Costa Gameiro
Residente em S. Simão de Litém, concelho de Pombal. Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC. Ouvinte e observadora. Voluntária na Atlas, no projeto Velhos Amigos.

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Fora da Medicina ATLAS – People Like Us

Newsletter Voice*MED | Abril 2020

A ATLAS é uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento, com sede em Coimbra.

Em Coimbra, desenvolve desde janeiro de 2009 um projeto de Desenvolvimento Local – o Projeto “Velhos Amigos”, que apoia idosos nas suas casas, em situação de carência e/ou isolamento, todos os fins-de-semana do ano. É um projeto de Voluntariado Profissional que leva refeições quentes, afetos e companhia a idosos da cidade. A ATLAS, expandiu a mais três cidades, Leiria, Marinha Grande e Pombal.

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Estudantes apelam à preservação do Planeta

By Carla Fragoso – JORNAL DA MARINHA GRANDE | Fevereiro, 2020

Artigo publicado no Jornal da Marinha Grande
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APP e ATLAS juntam-se pelos idosos

By Jornal A Cabra | Novembro 2019

Artigo original disponível aqui.

“ATLAS atua em prol dos idosos com base no voluntariado. Jantar solidário promovido pel’A Previdência Portuguesa visa angariar fundos para a associação. Por Jade Sanglard e Filipe Silva

A Casa da Mutualidade recebeu hoje o presidente d’A Previdência Portuguesa (APP), António Martins de Oliveira, e a vice-presidente da Associação de Cooperação para o Desenvolvimento (ATLAS), Raquel Pina. Os representantes juntaram-se numa conferência de imprensa para falar sobre o Jantar de Natal Solidário e divulgar a ATLAS.

O projeto principal da ATLAS é o “Velhos Amigos”, que consiste em recolher comida doada por 12 restaurantes e entregá-la aos idosos, aos sábados. “Para além das refeições, começámos a dar um apoio psicológico e expandimos as áreas de atuação conforme as necessidades”, acrescenta Raquel Pina. Esta refere que têm parcerias com a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e com a Escola Superior de Enfermagem. Conta ainda com apoio da Santa Casa da Misericórdia e com apoio jurídico à base de voluntariado.

A vice-presidente tem orgulho em dizer que, desde o início do projeto em 2009, “não houve um sábado que a instituição falhasse”. Isto deve-se ao facto de se tratar de um “voluntariado profissional”, com papéis bem definidos. O projeto começou com quatro idosos em Coimbra e, desde então, expandiu-se para Leiria, Marinha Grande e Pombal, cidades onde abrange 75 seniores. Raquel Pina revela ainda que são “as únicas pessoas a visitar alguns idosos”.

São quase 300 os voluntários que participam na ATLAS, dos quais mais de 90 em Coimbra. Apesar deste número, Raquel Pina reforça a necessidade de um apoio financeiro para viabilizar outras atividades como, por exemplo, a fisioterapia em casa dos necessitados.

António Martins de Oliveira usou a palavra para divulgar o Jantar de Natal Solidário que considera já ser “uma tradição da APP”. Este vai ter lugar no centro de eventos Valle de Canas, tem como objetivo dar a conhecer as atividades das instituições que trabalham em prol da comunidade. “Há pessoas que têm problemas de saúde, de conduta própria ou financeiros. Estas não conseguem ultrapassar as suas dificuldades e necessitam de ajuda”.

O jantar tem ainda a intenção de angariar fundos destinados à ATLAS. O presidente da APP revela que o donativo da Previdência “vai ser de, no mínimo, 1500 euros”. As inscrições podem ser feitas através de telefone, formulário online ou presencialmente. Os não associados pagam 25 euros, os associados 20 e os funcionários usufruem do jantar a custo zero. “

Artigo original disponível aqui.

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