cidadania;

Fazer parte de um todo na escola

Começou um novo ano letivo escolar. É uma altura de novas expetativas, novas amizades e novos conhecimentos, para os filhos… e para os pais, se assim souberem agarrar as oportunidades. Com toda a preparação que possamos fazer para que seja um recomeço tranquilo, não deixa de ser uma rentrée em tempos conturbados. Será, pois, oportuno questionarmo-nos, nós pais, sobre o que podemos fazer para criar unidade de ação pais – professores.

Estou convicta de que com “pais brilhantes” conseguimos “professores fascinantes”, como apregoa o livro, e de que esta dupla” pais-professores”, centrada no bem comum – o aluno, tem um potencial incomensurável, assim haja comunicação e participação dos pais na escola.  De facto, frequentemente há inquietações não resolvidas e expetativas de pais e alunos frustradas, com origem essencialmente na falta de comunicação e na ausência dos pais na vida da escola.

Pais informados e alinhados com a Escola constituem um contributo grandioso para o sucesso escolar dos alunos e para a formação de jovens confiantes, otimistas e com esperança no futuro.  E uma das formas mais eficazes de estar presente e de acompanhar o percurso escolar dos filhos, é fazer parte de uma associação de pais.

Ser voluntário inserido no seio de uma associação de pais é uma forma de partilhar a responsabilidade de ensinar; é ser ator no processo educativo dos filhos; é fazer parte de um todo. Nestas lides de educação, situa-se o palco dos pais em Casa e o dos professores na Escola, mas ao ser-se voluntário numa associação de pais, passa a Escola dos Filhos a ser também a Casa dos Pais e, deste modo, a partilharem-se inquietações e a conhecer-se melhor o rumo que os filhos levam.

É este o meu desafio de voluntária da ATLAS: que neste início de ano letivo os pais, eventualmente já voluntários noutras frentes, estejam mais presentes na Escola e se voluntariem para integrarem os Corpos Sociais de uma Associação de Pais.

A bem dos nossos jovens alunos.


Autora
Irene Primitivo
Voluntária ATLAS no Projeto Velhos Amigos em Leiria. Membro da Direcção.

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Ana Rita Vieira

Ninguém é insubstituível, verdade. Mas há pessoas que são inspiradoras e catalisadoras de mudança.

Há gente com a sua presença e com intervenções discretas consegue colocar as engrenagens a trabalhar. Estou a falar da Ana Rita Vieira e estou a chamar-lhe enzima e óleo. Talvez a palavra certa, responsável por estas mudanças, seja carisma deixando a físico-química à parte. E é assim que a nossa Rita é. Veio e conseguiu mudar coisas, criar outras e nada mais ficará igual a antes dela.

A paixão que põe nas coisas transparece e contagia os outros e faz-nos acreditar que é possível.

A Rita é muito nova, mas tem uma maturidade apreciável com laivos de irreverência de adolescente, que a tornam cativante. Nem tudo foram rosas para ela e também para nós, mas o saldo final é muito positivo. Aprendemos e ensinamos à Rita e conseguimos gravá-la nos nossos corações que é assim que se eternizam as pessoas. A Rita vai abraçar um novo projeto profissional e isso só demonstra a sua inquietude, a sua vontade de aprender, de inovar, de se superar.

Na Atlas os voluntários são o pilar e o grande ativo, mas quem os coordena e organiza tem o mérito de saber extrair deles o melhor.

A Ana Rita segue o seu caminho e sabe que poderá sempre voltar à sua casa, dado que há muito ganhou também o estatuto de amiga e voluntária.

Que o voo seja grande como a tuas asas e que saibas que poderás sempre pousar por cá na Atlas para retemperar forças e partilhar alegrias e conquistas.

Estarás por aí, ficaremos por cá.


Autora
Helena Vasconcelos
Presidente da Direção da Atlas – People Like Us

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Saudades das festas populares e do nosso Arraial Atlas!

Passou o São João e o São Pedro e faltou o nosso Arraial Atlas, cada ano mais aprimorado! O porco a assar no espeto, as sardinhas, a paelha, as sandes de leitão, o café da avó, os bolos, e ainda os arcos, as flores e as luzes que enfeitam os socalcos… O branco e o vermelho pontilham o jardim, são dezenas de voluntários juntos, cada um dando o seu melhor! 


É um ponto alto do trabalho voluntário, do convívio, da alegria do reencontro, de receber quem se estreia na Atlas.

Neste verão sinto falta dos Arraiais, das Festas Populares… As festas polvilham de cor um fim de semana por cada aldeia, quando alguma da gente que lá cresceu se junta para honrar o Santo Padroeiro e, assim, ter pretexto para estar em festa o dia inteiro! Cozinham-se petiscos do melhor, põe-se a tocar música que toda a gente canta e dança (nem que seja só “nessa noite de verão”) e o espírito rejuvenesce! A energia dos dias grandes e a brisa refrescante das noites de verão trazem o povo para a rua, “só mais dois dedos de conversa” e, quem sabe, um pezinho no bailarico.

Arraial Solidário 2019 da ATLAS People Like Us, Barreira (Leiria)

Nas festas populares perpetuam-se tradições e, assim, estamos em sintonia com as gerações que desbravaram antes de nós. As Festas dos Santos, por exemplo, são celebrações católicas que dão continuidade aos festejos pagãos do solstício de verão. Os festejos assinalavam o dia com mais horas de luz solar, tão importante para o amadurecimento dos frutos e cereais, celebrando a fertilidade da Terra, pois as colheitas surgiriam em breve. Estes rituais de fertilidade chegam aos nossos dias simbolicamente representados no manjerico, planta que os namorados oferecem, um ao outro, com versos de amor. [1]

Se neste verão ainda não podemos viver as Festas com toda a sua expressão, então, que façamos algo que nos mantenha ligados à tradição, cada um ao seu jeito (comprar um manjerico; confecionar o típico bolo em ferradura; escrever quadras aos Santos; cantar música de Arraial; etc.) As tradições mantêm-se pela ação de cada um de nós e são história de um povo que uma geração conta à seguinte.

Ó meu rico São João,
Temos saudades do Arraial

Enche-nos de esperança o coração,
E que no próximo ano haja um sem igual!


[1] https://www.visitportugal.com/pt-pt/no;


Autora
Sofia Carruço
Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria

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Como cuidar de um relacionamento em tempo de pandemia?

A pandemia chegou já há mais de um ano e instalou-se uma avassaladora instabilidade em todas as áreas da nossa vida, incluindo nos relacionamentos.

Nos últimos tempos temos sido assoberbados de notícias como: “A quarentena pode fragilizar os casais”, “A quarentena prolongada faz disparar taxa de divórcios”, “Como salvar o meu casamento durante o tempo de pandemia?”… Mas afinal o que está a acontecer? Haverá alguma forma de contrariarmos essa tendência?

Ora vejamos… Anteriormente à pandemia, passávamos dias e dias “embrulhados na correria do dia-a-dia”, queríamos ter tempo para pensar em nós, queríamos ter tempo para pensar nos outros, queríamos ter tempo para parar um pouco e não conseguíamos. Entretanto, a nossa rotina sofreu grandes alterações com a chegada do tão (des)conhecido COVID-19. Foram mudanças que se fizeram sentir em casa, no trabalho, nos nossos relacionamentos interpessoais e entre tantos outros aspetos das nossas vidas.

Em muitos casos, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, a ter de conviver mais tempo com o seu parceiro, a ter de gerir o espaço em casa entre a presença quase constante dos filhos e o espaço para a intimidade como casal, entre outros desafios.

A presença constante de ambos os membros do casal, a ansiedade, a angústia, a preocupação, o medo do desconhecido, são tudo situações e sentimentos que podem interferir negativamente com o bem-estar do casal.

Durante este tempo, pode verificar-se uma maior predisposição para o aparecimento de conflitos e uma maior dificuldade em estabelecer momentos de maior intimidade.  No sentido de contrariar esta tendência e de fomentar a resiliência de ambos os membros do casal gostaria de deixar algumas dicas e reflexões:

  • Dê espaço ao seu parceiro! Mesmo dentro da mesma casa, é importante que ambos os membros do casal possam ter o seu próprio espaço, os seus momentos a sós… O sentimento de controlo e de “sufoco” só irá agravar os momentos de discussão que possam já existir e outros que nunca existiram e que começam agora a desencadear-se.


  • Não se esqueça de respirar fundo e parar para pensar antes de dar um par de berros, fazer acusações ou assumir uma postura agressiva. Questione-se primeiro interiormente: “Porque me estou a sentir assim?” e “O que eu gostava que fosse diferente?”.


  • A capacidade de tolerância e de autocontrolo são também imprescindíveis nesta fase. Evite os ataques pessoais, evite a escalada de tensão que não tem por onde “explodir” ou que se explodir pode levá-lo a um rumo que não era de todo o que pretendia, mas que não conseguiu controlar a tempo.


  • A capacidade de pedir desculpa é fundamental. Lembre-se, ninguém é perfeito, e tal como você também o seu parceiro está a lidar com uma fase nova de adaptação. Tentem encontrar o melhor projeto de adaptação juntos. Partilhem dúvidas, medos, receios, soluções, planos de vida a curto e a longo prazo …


  • A comunicação pode revelar-se a maior arma terapêutica para os casais durante o tempo de pandemia, tal como durante todos os tempos das nossas vidas. Os casais que já tenham dificuldades de comunicação, poderão nesta fase enfrentar um período ainda mais difícil. Se for o caso, não deixem que chegue a um ponto de não retorno, procurem ajuda especializada.


  • Não se esqueçam que há gestos tão simples como o toque, o abraço e o carinho que conseguem por si só, muitas vezes, “fazer verdadeiros milagres”.


  • Evitem passar horas agarrados às redes sociais; estipulem um horário a partir do qual é proibido agarrar no telemóvel.


  • Mantenham rotinas saudáveis, estipulem os dias para a prática de atividade física em conjunto, um dia por semana para o “o vosso momento romântico” e estabeleçam rituais de relaxamento e conexão.


  • Cuidem da vossa casa em conjunto e partilhem as tarefas domésticas, sendo flexíveis com as 1000 tarefas que possam surgir.

O tempo passado em quarentena tende a intensificar as emoções. Não se esqueça, o segredo de um bom relacionamento tende a estar no equilíbrio. Reinvente a sua forma de amar e de perdoar, encontre um novo equilíbrio, vença novos desafios e descubra momentos únicos que o seu relacionamento ainda tem para lhe proporcionar.


Autora
Catarina Fortunato
Tem 29 anos e é natural da Maceira, com fortes laços familiares com a Marinha Grande. 
É Mestre em Medicina, Catarina é Médica Interna de Medicina Geral e Familiar em Aveiro, dispondo de dupla especialização de Sexologia e Terapia de Casal.

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Do outro lado do mundo

Tinha chegado o momento de concretizar o objetivo de ensinar a língua portuguesa num país pertencente à nossa comunidade linguística. Antes que a idade o impossibilitasse, era hora de fazer um voluntariado diferente. Assim, Timor-Leste, com a sua história comovente, apareceu como oportunidade de cumprir esse desejo. Contribuir para o desenvolvimento de um jovem país com eterna ligação a Portugal era motivo de orgulho e justificava o sacrifício da partida.

Ao chegar a Timor-Leste, é necessário esquecer o que se conhece da vida.

É preciso despirmo-nos de tudo o que julgamos saber e entrar no contexto. Na maior parte das localidades, o pão não se compra; faz-se. Come-se o que há.  Bananas, papaias, maracujás, abacates, anonas, pitaias são vendidos pelos próprios produtores em barracas montadas à porta das próprias casas. Os transportes públicos da cidade de Díli são as “microletes”, carrinhas pequeninas, muito velhas, conduzidas por jovens, com a música aos berros, e tem de se bater com uma moeda no vidro assinalando a intenção de sair. O lixo é queimado, pois não há recolha, e até lá mantém-se em plena rua. Os cuidados médicos são rudimentares e escassos. Não existe indústria nem explorações de agricultura intensiva.

Somos representantes do nosso país; o que um faz reflete-se na forma como a comunidade timorense vê todos os outros e como vê Portugal. O professor é aquele na mão de quem está o futuro dos jovens e do país; é o que detém o conhecimento; é o que deve dar o exemplo. Todas as pessoas nos tratam por “professora” e, dito pelos alunos, parece exprimir um carinho muito grande. Sempre sorridentes, olham para nós com curiosidade e respeito. São jovens irrequietos como todos os outros, mas revelam um grande respeito pelos professores. Muitos desejam vir a ser médicos, engenheiros, informáticos…num país onde escasseiam os empregos. Valorizam muito os livros. Quando um professor lhes oferece ou empresta um livro, sentem-se privilegiados e orgulhosos e tratam o livro com muita consideração.

Sentir Portugal em Timor-Leste | UCCLA
Do outro lado do mundo. Ensinar a língua portuguesa em Timor-Leste

Num lugar onde quase todos os bens materiais faltam, a família é o orgulho de cada um; definem-se pela família a que pertencem. É gente boa que se esforça muito para fazer evoluir o país entre muitas dificuldades.

 Perante tudo isto, fico com vontade de não me queixar de mais nada na vida. Fico com vontade de aproveitar tudo o que de bom houver em meu redor e me fizer feliz e fizer feliz quem o merecer. E, quem sabe, quando a pandemia desaparecer, concretizar, então, o projeto adiado.


Autora
Helena Jesus
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande.

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Quando o “Não” é para banir

Por incrível que pareça aos oitenta e quatro anos fui convidada para fazer parte de um projeto que me era totalmente desconhecido e em tudo diferente daquilo a que estava habituada. 

Aceitei porque quase bani do meu vocabulário a palavra «não».

Acho-a uma palavra demasiado forte e só a uso em situações extremas. Prefiro substituí-la por um sorriso.

Devo dizer que não fazia ideia do que me esperava. Aceitei e gostei. Foi aí, nesse projeto, que tive verdadeira consciência de que é: no dar que se recebe e que se recebe sempre mais do que aquilo que se dá. 

Eu saía para ir fazer companhia a quem estava só, mas verdade é que eu também beneficiava dessa companhia. Entretanto surgiu a pandemia, diminuíram as visitas, foram aparecendo elementos novos e cessei as minhas atividades.

De qualquer modo continuo na retaguarda pronta para o que seja preciso dentro das minhas possibilidades e capacidades.

Conheci pessoas maravilhosas, além das que já conhecia, tanto utentes como cuidadoras, que muito admiro e que vieram aumentar o meu grupo de amigos.

Recordo aqui alguns encontros que ficaram para sempre na memória. Bem-haja a todas e a todos. Um abraço de profundo reconhecimento. Convosco fiquei mais rica. 


Autora
Maria Fernanda Alegre
Voluntária do Projeto Velhos Amigos, nasceu a 6 de julho de 1933, no concelho de Condeixa a Nova. Fez o curso no magistério primário. Depois de se reformar, tem-se dedicado ao voluntariado.

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Projetos de Vida Sénior

A reforma é o merecido descanso de uma vida de trabalho, de correrias, de preocupações.


Há aquele alívio de que vamos finalmente descansar. Assim sendo, parece ser realmente o ideal, talvez durante uns tempos.
No entanto, quando a inércia toma conta de nós, tudo começa a ficar mais complicado. Não há rotinas, não há horários, não há a conversa habitual com as amigas e tudo se torna mais monótono. Há que arranjar algo que nos ocupe de novo, mas agora sem pressas nem compromissos rigorosos.
Depois de algumas pesquisas, encontrei a Projetos de Vida Sénior, fui ver do que se tratava, gostei e inscrevi-me.
Tudo mudou! Passou a haver de novo tempo para tudo, senti-me de novo ativa. Convivemos, aprendemos, fazemos exercício físico e mental, fazemos visitas temáticas e passeios pelo país e até pelo estrangeiro. Fiz novos amigos e reencontrei outros com quem há muito não convivia. De realçar ainda os extraordinários professores que dão o seu tempo e partilham o seu saber voluntariamente, dando-nos também muito da sua simpatia e amizade.

Projectos de Vida Sénior é uma Universidade Sénior da Marinha Grande, um projecto de aprendizagem informal dirigido a maiores de 50 anos. Saibe mais aqui.


A “Universidade Sénior” foi verdadeiramente algo de bom que me aconteceu. Foram três anos maravilhosos que me enriqueceram a todos os níveis.


Digo três anos porque ganhei, finalmente, o estatuto de avó! Esta era a etapa que faltava na minha vida e eu queria desfruta-la ao máximo.
Ponderei e evidentemente optei por ajudar a criar o meu neto. Interrompi então a minha passagem pela a Universidade, convicta de que iria voltar. Não foi possível, até à data, porque voltei, de novo, a ser avó.
Mantenho, no entanto, a esperança de voltar porque não há prazo para aprender e para ser feliz.


Autora
Cidália Carvalheiro
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande. Natural de Viseu, tem 71 anos, é casada há 50 anos, tem dois filhos e dois netos.

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A senhora que folheava revistas de moda

Uma senhora, de idade avançada, veterana na vida, ocupava uma cadeira num recanto de um cabeleireiro. Parecia esquecida como um candeeiro baço ou como a própria cadeira que ocupava, como se não tivesse vida. E ela que tinha tanta! Ao seu lado, no chão, repousava a sua bengala, a sua perna mais nova, mais firme, que lhe permitia o apoio nos movimentos.

O seu cabelo de neve escorregava por baixo de um barrete preto, que tapava o frio e os fios finos. Também tapava a vaidade que, a partir de certa idade, passa a ser uma raridade. A sua cara riscada de linhas exibia uma cor clara, porém manchada aqui e acolá. A sua silhueta pesava para a sua idade, por isso o recurso à bengala e à cadeira. Os seus olhos, tapados por umas cortinas espessas espelhavam doçura e apenas deitavam brilho.

Depois de pegar na sua bengala e de a encostar junto a si, fixou os olhos numa revista colorida. Quis entreter-se. Queria ver que fotografias mostrava do mundo. Pegou nela, com a sua mão já um pouco trémula, e começou a fazer passar as páginas pelos dedos. As caras eram todas lisas e cobertas de cores diversas para realçar os olhos e os lábios. Havia cabelos que deslizavam, outros que saltitavam e ainda outros armados em trabalhos elaborados.

As roupas eram vistosas e coloridas e deixavam adivinhar silhuetas todas magras, firmes e jovens.

Folheou a revista até ao fim e depois apenas disse:

– “Isto é só para os novos!”

E era. Também a revista parecia esquecer-se dela com aquela idolatria toda ao corpo jovem, modelado. E as outras revistas pareciam ser todas iguais. Não havia nenhuma que apresentasse silhuetas mais frágeis e mais volumosas. Não se vislumbrava qualquer sinal de cabelos brancos e finos. Nenhuma procurava embelezar uma cara riscada de rugas. Nenhuma sequer procuraria retratar um sorriso verdadeiro, daqueles que só vêm das pessoas que só se riem quando querem.

Depois de proclamar a sua crítica, atirou a revista para dentro do cesto (de onde tinha saído) e continuou na sua cadeira. Sentada. À espera.

Ninguém ligou. Ninguém ouviu. Continuou tudo na mesma. O secador continuou a alisar cabelos com a ajuda das escovas e as conversas acompanhavam a imagem que ia aparecendo no espelho.


Autora
Celina da Costa Gameiro
Residente em S. Simão de Litém, concelho de Pombal. Licenciada em Línguas e Literaturas modernas, variante de estudos franceses e ingleses, pela FLUC. Ouvinte e observadora. Voluntária na Atlas, no projeto Velhos Amigos.

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Voluntariado, um altruísmo egoísta

O voluntariado é um exercício de cidadania, de solidariedade e contribui para a realização pessoal de quem o pratica. Definido como “um ato livre, gratuito e desinteressado, oferecido às pessoas, às organizações, à comunidade ou à sociedade” (Paré e Wavroch, 2002:11), o reconhecimento da importância da prática tem vindo crescer, note-se o estabelecimento do ano internacional do voluntariado (2001), o assinalar do dia internacional dos voluntários (05 de dezembro), bem como a criação de programas de voluntariado.

A Organização das Nações Unidas realça a importância do voluntariado pelo seu papel no “reforço da coesão social e económica, gerando capital social, promovendo a cidadania ativa, a solidariedade e uma forma de cultura que põe as pessoas em primeiro lugar”.

O voluntariado desempenha uma função muito importante no apoio ao estado, e às organizações do terceiro sector, que não conseguem dar resposta a todas as situações. É uma forma de participar na transformação social e um meio de participação cívica dos cidadãos, onde o indivíduo procura dar um contributo para tornar a sociedade melhor, mais inclusiva, mais igualitária, respeitando e agindo de acordo com os direitos de todos os seres. É uma prática que deve ser incentivada e impulsionada (tendo aqui a educação um papel fundamental) para que se torna parte integrante da cultura.

“Dar e receber
devia ser a nossa forma de viver”

  • António Variações

Faço voluntariado há vários anos, e recomendo! Faço-o com pessoas, faço-o com animais, faço-o por mim. Na minha opinião o voluntariado assenta na premissa dar e receber, tal como diz a canção do António Variações “dar e receber devia ser a nossa forma de viver”. Dou um pouco do meu tempo e da minha atenção e em troca recebo sorrisos e estima.

Voluntária do Projeto Velhos Amigos da ATLAS, na Marinha Grande.

As motivações para o voluntariado são também alvo de um crescente interesse por parte da comunidade académica que tem vindo a desenvolver vários estudos para compreender os motivos que levam os indivíduos a desenvolverem a atividade de voluntariado, e a permanecer na prática por longos períodos; bem como estudos de caraterização da prática do voluntariado (em Portugal – Delicado, 2002; Amaro et al, 2012; Serapioni, Ferreira e Lima, 2013). Os estudos sobre a motivação para o voluntariado são efetuados com base na aplicação de vários instrumentos, nomeadamente o inventário de funções do voluntario que identifica várias categorias: as pessoas tornam-se voluntárias para expressar os valores (altruísmo), para desenvolver habilidades /aprendizagem, por motivos relacionados a carreira (ganhar experiência profissional), para proteger o próprio self de sentimentos de culpa, para crescimento/desenvolvimento pessoal, pela possibilidade de socializar com outras pessoas.

Vários autores (Delicado, 2002; Cnaan e Goldberg-Glen, 1991) consideram que as motivações para o voluntariado tanto podem ser de carácter altruísta como de carácter egoísta, uma vez que a sua pratica contribui, pelas experiências vividas e partilhadas, para o crescimento pessoal. Importa também referir que diversos estudos realizados juntos de voluntários apontam para a perceção de benefícios como uma melhor saúde física e mental, bem como níveis elevados de bem-estar subjetivo.

Sê tambem voluntários na ATLAS – People Like Us. Sabe mais clicando aqui.

Autora
Cláudia Marinho
Socióloga, Investigadora Social em temas como migrações, juventude, delinquência juvenil. Voluntária na ATLAS, no Projeto Velhos Amigos.

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O mundo precisa de nós!

Olá, sou a Nicole Bohórquez tenho 20 anos e sou uma estudante Universitária do Equador. Há 3 anos lancei-me numa aventura para um dos melhores países do Mundo, Portugal.

Quando temos 17 anos ainda não sabemos muito bem o que queremos ser na vida, nem o que queremos estudar e muito menos onde; mas uma coisa é verdade, queremos sempre uma mudança, queremos trocar tudo aquilo que não gostávamos por coisas que nos apaixonam.

O Equador é um país maravilhoso: cheio de cultura, importantes patrimónios históricos e uma flora e fauna como nenhuma outra região no mundo; histórias que intrigam aos mais exigentes visitantes são contadas diariamente nos seus grandes centros coloniais. Quito, a cidade que me viu crescer e a antiga capital do império Inca como, alguns historiadores afirmam, foi contruída na metade do mundo sobre as montanhas da cordilheira dos Andes a mais de 2.850 metros sobre o nível do mar, e foi o lugar onde toda a minha família esperava saber qual ia ser o próximo episodio da minha vida. 

Quito, capital do Equador.

Mas para uma rapariga como eu, que estava à procura de novos desafios e expandir os seus conhecimentos mais além das fronteiras ,não me bastava ficar naquele belo lugar. Eu precisava de mais, precisava mesmo de levar a minha mala cheia de solidariedade a um país tão maravilhoso como o meu. A dúvida invadia todo o meu corpo, despertando o desejo de saber qual seria o meu destino.

Portugal é o País dos castelos medievais, aldeias de xisto, cidades cativantes e praias douradas, uma região que entrega ao mundo os mais sublimes pôr-do-sol que alguma vez já vi.  Desde a cidade dos Miradouros de Lisboa até à apaixonante cidade de Porto. O terceiro país mais seguro do mundo, uma região muito tranquila para se viver, os cidadãos mais antigos dizem que Portugal é o “cantinho do céu”; e como não acreditar nisto se cada dia da minha vida em Portugal tem sido uma bênção de Deus.

Eu sou das pessoas que acreditam em que a vida é uma aventura, e que temos de vivê-la como se cada dia fosse o último, sou uma rapariga que tem uma grande ligação com a sua família, mas o meu compromisso com o mundo vai mais longe. Nunca me vou esquecer da primeira vez que tive de me despedir da minha família no aeroporto Internacional de Quito, nunca antes tinha sentido tantas emoções ao mesmo tempo, era uma batalha intensa entre o entusiasmo de conhecer o meu destino e a tristeza de deixar para atrás os seres que mais amo no planeta.

 Só a partir daí reparas que tudo o que tinhas antes ou o que tinhas construído em toda a tua vida afastava-se pouco a pouco através da janela dum avião, mas depois de um suspiro começas a pensar em que tudo vai correr bem, e em que serás o orgulho de uma família inteira que sempre vai esperar o teu regresso.

Portugal recebeu-me de braços abertos, o clima era perfeito, o meu café era perfeito, Leiria era tão linda, tudo era espetacular. Não podia esperar para chegar ao meu quarto deixar as minhas coisas e sair para conhecer a nova cidade onde ia viver nos próximos 3 anos.

No início, o meu nível de português era o equivalente a um miúdo de 6 anos e, apesar disso, graças à boa vontade para ajudar- característica do povo português-, conseguia comunicar com algumas dificuldades, mas sempre transmitindo o meu objetivo.

Adorei imenso a gastronomia de Portugal!,- o bacalhau com natas, o bacalhau a Brás, o bacalhau espiritual-,… meu deus, nunca pensei que o bacalhau podia ser cozinhado de tantas maneiras e oxalá algum dia consiga experimentar todos os que existem.

Para quem vem da América Latina, continente que não testemunhou a época Medieval, a arquitetura das cidades europeias é uma verdadeira obra de arte e o ponto mais expressivo da bela cidade de Leiria sem dúvida é o seu castelo, de onde os visitantes podem apreciar as extensões territoriais de uma das mais peculiares cidades europeias.

Será que valia a pena ter deixado tudo para trás?

Os meus primeiros meses não podiam ter sido melhores, foi uma das melhores épocas que já passei, mas chegou um ponto que comecei a questionar as minhas próprias decisões, era este o caminho correto? era esta a vida que eu queria? Será que valia a pena ter deixado tudo para trás e começar do zero? tantas perguntas sem uma resposta clara nublavam na minha mente e afogavam as minhas ânsias de mover adiante.

Sim, é certo que vir para Portugal foi a melhor decisão que podia ter tomado, mas deixar o meu país foi o mais difícil de assimilar. Neste ponto da minha vida, onde quase nada fazia sentido, ganhei uma família, da qual vou estar sempre eternamente agradecida, pois com eles descobri a importância de valorizar a vida de uma pessoa tanto como a de milhões: Atlas, uma organização Portuguesa de Voluntariado, um raio de esperança no mundo e uma bênção para aqueles que mais precisam da colaboração da sociedade.

Graças a eles, reforcei o meu propósito de vida: “Fazer o bem sem olhar para quem”, e aos que chegaram até este ponto da história, quero dizer-vos que o mundo precisa de nós, não importa onde estejamos. Podemos fazer tanto só com o nosso sorriso e a vontade de fazer mais amena a vida daqueles que já desistiram de ser felizes.

Bootcamp de voluntários 2019, no qual a Nicole esteve presente.

Quero culminar com uma frase que toca a minha alma sempre que a oiço, e que sei que vai servir como motivo para te fazer sair da tua cadeira a abraçar todos aqueles que precisem do nosso carinho.   

Enquanto houver vida, haverá esperança!


Autora
Dayana Nicole Bohórquez Huertas
Estudante e Voluntária no Projeto Velhos Amigos

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