estimulação cognitiva

Estimulação Cognitiva no Processo de Envelhecimento

Intervir com a pessoa idosa exige pensar o Envelhecimento enquanto processo de declínio progressivo, complexo e multifatorial, que se traduz, essencialmente, em alterações biológicas, psicológicas e sociais.

Exige ainda considerar as alterações decorrentes do processo de Envelhecimento Cognitivo, muitas vezes subvalorizadas e que, na verdade, impactam significativamente a vida de muitos idosos.

O Envelhecimento Cognitivo traduz-se na diminuição e lentificação dos processos cognitivos, ou seja, qualquer procedimento utilizado para processar informações recebidas através dos sentidos, atribuir-lhes significado e transformá-las em conhecimento, tomando decisões em sua função. Estas alterações nos processos cognitivos podem comprometer o desempenho do idoso nas atividades da vida diária (tais como comer, vestir ou tomar banho) e condicionar a sua participação social.

A Estimulação Cognitiva assume-se como estratégia de manutenção e melhoria das capacidades cognitivas, podendo a sua implementação beneficiar o processo de Envelhecimento, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, com efeitos positivos na cognição, autonomia e redução da sintomatologia depressiva (Loewenstein, Acevedo & Czaja, 2004; Rue, 2010; Spector, Orrell, & Woods, 2010).

Os efeitos da Estimulação Cognitiva relacionam-se com o conceito de neuroplasticidade, capacidade que o cérebro tem de, perante alterações, criar novas ligações e aumentar os circuitos neuronais, enquanto resposta adaptativa, através da exposição a estímulos constantes e adequados (Bastos, Oliveira & Silva, 2017).

A orientação, atenção, linguagem, memória, funções executivas, cálculo, praxias (capacidade de realizar movimentos eficazes e coordenados) e gnosias (reconhecimento de estímulos recebidos através dos sentidos) são algumas das funções que podem ser estimuladas, através de atividades de papel e caneta, música, jogos, aplicações móveis, realidade virtual, entre outras.

É fundamental considerar a singularidade de cada pessoa, pelo que conhecer a história de vida e os interesses do idoso são aspetos relevantes ao programar uma sessão de Estimulação Cognitiva
(Nadai, Pinheiro & Melo, 2018)

O ambiente em que a sessão decorre deverá ser pensado e organizado, oferecendo temperatura, iluminação e quantidade de estímulos adequada. O grau de dificuldade das atividades apresentadas deverá ser desafiante e estimulante, graduado sempre que necessário.

Seja em contexto de voluntariado ou de intervenção cognitiva, o essencial é estar verdadeiramente presente e envolvido, lembrando as palavras da Madre Teresa de Calcutá “se não pudermos fazer grandes coisas, façamo-las pequenas, com muito amor”.

Referências Bibliográficas

Bastos, J., Oliveira, M., Silva, D., & Silva, J. (2017). Relação ambiente terapêutico e neuroplasticidade: uma revisão de literatura. Revista Interdisciplinar Ciências e Saúde, 4(1). Retrieved from https://revistas.ufpi.br/index.php/rics/article/view/4337

Loewenstein, D. A., Acevedo, A., Czaja, S. J., & Duara, R. (2004). Cognitive Rehabilitation of Mildly Impaired Alzheimer Disease Patients on Cholinesterase Inhibitors. The American Journal of Geriatric Psychiatry, 12(4), 395–402. https://doi.org/10.1097/00019442-200407000-00007

Nadai, M., Pinheiro, L., & Melo, D. (2018). Envelhecimento bem-sucedido e autoeficácia: Uma revisão da literatura. Revista Kairós : Gerontologia, 21(3), 403–422. https://doi.org/10.23925/2176-901X.2018v21i3p403-422

Rue, A. (2010). Healthy brain aging: role of cognitive reserve, cognitive stimulation, and cognitive exercises. Clinics in Geriatric Medicine, 26(1), 99–111
https://doi.org/10.1016/j.cger.2009.11.003 Spector, A., Orrell, M., & Woods, B. (2010).

Cognitive Stimulation Therapy (CST): effects on different areas of cognitive function for people with dementia. International Journal of Geriatric Psychiatry, 25(12), 1253–1258. https://doi.org/10.1002/gps.2464

Joana Sousa

Licenciada em Terapia Ocupacional, com formação complementar em Intervenção com a Pessoa Idosa e Cuidadores e em Estimulação Multisensorial na Demência. 

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Estimulação Cognitiva

No dia 15 de Outubro, a sede da Atlas, na Marinha Grande, acolheu um Encontro ao Serão dinamizado pela Dra. Joana Sousa, terapeuta ocupacional que desenvolve trabalho na área de gerontologia. A Dra. Joana Sousa informou e sensibilizou os participantes para a temática da Estimulação Cognitiva, que pode ser aplicada, por exemplo, à população idosa do Projeto Velhos Amigos.

Conceito de Estimulação Cognitiva

Referimo-nos a Estimulação Cognitiva quando induzimos a ativação de processos mentais responsáveis por apreender e processar informação do mundo que nos rodeia, tais como a perceção (informação captada pelos cinco sentidos), atenção, memória, pensamento e linguagem.

A Estimulação Cognitiva, enquanto técnica, aplica-se a indivíduos nos quais uma ou mais daquelas capacidades se encontra fragilizada, sendo necessária a sua reabilitação ou melhoria. Esta situação verifica-se como consequência de uma doença ou do envelhecimento natural (em indivíduos que já tinham a capacidade adquirida e ela vai perdendo funcionalidade, como acontece na população idosa); pode ainda acontecer em situações de atrasos no desenvolvimento, quando se trata de indivíduos nos quais a capacidade não chegou ao estado de maturação (como acontece em crianças cujo desenvolvimento de determinada capacidade está comprometido). Esta técnica pode ser utilizada, também, para manutenção das capacidades, como treino cognitivo.

Assim como fazemos atividade física para tonificar o tecido muscular, podemos realizar atividades para estimular a memória, a atenção, a linguagem ou outros processos mentais.

As atividades podem ser simples ou mais complexas, como exemplo:

  • estabelecer um diálogo empático, durante o qual conversamos acerca de episódios da história de vida do idoso e o levamos a recordar (“Como era o seu dia de trabalho na fábrica?”) ou reconhecer (“O jardim que está nesta fotografia é na nossa cidade?”) – estimulando a memória;
  • conversar acerca do seu quotidiano, aproveitando, por exemplo, a referência que o idoso faz relativamente às despesas que teve naquela semana e incentivar ao cálculo da soma das despesas – estimulando o pensamento;
  • se o idoso tiver visão e motricidade fina adequadas à atividade, sugerir uma tarefa de papel e lápis, como uma “sopa de letras” ou exercícios de correspondência (palavra e imagem) ou de análise de diferenças entre figuras, podendo também recorrer-se a equipamento tecnológico, como um tablet, usando aplicações para realização deste tipo de tarefas – estimulando atenção, pensamento, linguagem.

A tarefa terá um poder estimulante quando se apresenta como desafio, isto é, exigindo um nível de capacidade apenas um pouco acima do nível que o indivíduo detém (caso a exigência fosse de um nível muito acima, poderia resultar mais em frustração e menos em incentivo para perseverar no seu esforço e ir alcançando pequenas conquistas).

Podemos, então, ser “agentes” de estimulação cognitiva para com um idoso que visitamos como voluntários, para com um familiar (de qualquer faixa etária) ou até podemos dirigir esse estímulo a nós próprios, quando nos propomos realizar palavras cruzadas, ver um álbum antigo de fotografias ou dar atenção ao que os nossos sentidos rececionam (o som das folhas de outono que pisamos; as cores de uma maçã, o seu aroma e sabor).

Para um idoso com demência num estádio severo, vale a pena realizar estimulação cognitiva?

Esta foi uma questão que surgiu neste Encontro ao Serão e a resposta é: Claramente, vale a pena! Num ambiente estruturado, estabelecendo uma relação empática e quando está garantido que a nossa ação não é intrusiva, atendendo ao nível funcional do idoso (para definir o nível de desafio), haverá possibilidade de estimular alguns processos mentais. Num estádio de demência severa, no qual a memória é uma capacidade muito comprometida, poderemos, por exemplo, estimular a perceção ao ouvir o chilrear dos pássaros, dando significado a essa estimulação auditiva (“Daqui podemos ouvir os pássaros. Estamos na Primavera.”).


Autor: Sofia Carruço

Psicóloga e Voluntária no Projeto Velhos Amigos. Enquanto voluntária é um membro ativo na comunidade ATLAS, está sempre pronta para ajudar e tem sempre uma palavra amiga para os voluntários e Velhos Amigos.

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