voluntariado;

Fazer parte de um todo na escola

Começou um novo ano letivo escolar. É uma altura de novas expetativas, novas amizades e novos conhecimentos, para os filhos… e para os pais, se assim souberem agarrar as oportunidades. Com toda a preparação que possamos fazer para que seja um recomeço tranquilo, não deixa de ser uma rentrée em tempos conturbados. Será, pois, oportuno questionarmo-nos, nós pais, sobre o que podemos fazer para criar unidade de ação pais – professores.

Estou convicta de que com “pais brilhantes” conseguimos “professores fascinantes”, como apregoa o livro, e de que esta dupla” pais-professores”, centrada no bem comum – o aluno, tem um potencial incomensurável, assim haja comunicação e participação dos pais na escola.  De facto, frequentemente há inquietações não resolvidas e expetativas de pais e alunos frustradas, com origem essencialmente na falta de comunicação e na ausência dos pais na vida da escola.

Pais informados e alinhados com a Escola constituem um contributo grandioso para o sucesso escolar dos alunos e para a formação de jovens confiantes, otimistas e com esperança no futuro.  E uma das formas mais eficazes de estar presente e de acompanhar o percurso escolar dos filhos, é fazer parte de uma associação de pais.

Ser voluntário inserido no seio de uma associação de pais é uma forma de partilhar a responsabilidade de ensinar; é ser ator no processo educativo dos filhos; é fazer parte de um todo. Nestas lides de educação, situa-se o palco dos pais em Casa e o dos professores na Escola, mas ao ser-se voluntário numa associação de pais, passa a Escola dos Filhos a ser também a Casa dos Pais e, deste modo, a partilharem-se inquietações e a conhecer-se melhor o rumo que os filhos levam.

É este o meu desafio de voluntária da ATLAS: que neste início de ano letivo os pais, eventualmente já voluntários noutras frentes, estejam mais presentes na Escola e se voluntariem para integrarem os Corpos Sociais de uma Associação de Pais.

A bem dos nossos jovens alunos.


Autora
Irene Primitivo
Voluntária ATLAS no Projeto Velhos Amigos em Leiria. Membro da Direcção.

Ler Mais

A implementação do projeto Velhos Amigos no município da Batalha

ATLAS, o nome da nossa Associação, aprendi na formação de voluntários, foi escolhido por representar a figura mitológica também chamada de Atlante que fazia parte do grupo de titãs que foram condenados por Zeus. Ao titã Atlas foi aplicado o castigo de sustentar a abóbada celeste nos ombros por toda a eternidade. 

De facto, durante estes breves meses de voluntariado na ATLAS, sinto que é exatamente isso que move os nossos voluntários veteranos e aqueles que aderiram recentemente na Batalha, ajudar os outros a “carregar” o Seu mundo às costas. Aliviar o peso, mostrar que se interessam por toda a sua história, ajudar o outro dentro da Sua realidade, para que a Vida pese menos.

Implementar o projeto Velhos Amigos no município da Batalha começou lentamente. Devagarinho, conseguimos reunir com as principais entidades autárquicas e da área social, esperou-se.

E devagarinho fomos tentando descobrir o melhor “trilho a percorrer”. Tentativas falhadas, mas ultrapassadas, finalmente surgiu uma saída. Em julho, conseguimos identificar na Vila da Batalha dois beneficiários enquadráveis no perfil do projeto.

A perseverança das nossas Técnicas da Atlas e o apoio das outras Coordenadoras e da Direção foi fundamental para não haver desânimo, mas sim, esperança. O caminho não foi linear, foi necessário descobri-lo! Houve um bom acolhimento imediato da parte dos órgãos autárquicos, mas por outro lado, pouca recetividade de algumas áreas técnicas.

Mas a boa notícia foi a recetividade ao voluntariado, com um número de voluntários inscritos superior ao necessário para a primeira equipa, entusiasmados e com uma disponibilidade evidente e estimulante!

Iniciámos as visitas no primeiro sábado de setembro e está a correr muito bem. Como testemunham os voluntários, “…é gratificante”,” … temos de ser bons ouvintes!”, “ajudar os outros, ir de coração cheio e voltar com o coração a transbordar.”

No fim das contas, o que importa é o Bem que se faz.


Autora
Elizabeth Guerra
Voluntária ATLAS. Coordenadora do Projeto Velhos Amigos na Batalha 

Ler Mais

Ana Rita Vieira

Ninguém é insubstituível, verdade. Mas há pessoas que são inspiradoras e catalisadoras de mudança.

Há gente com a sua presença e com intervenções discretas consegue colocar as engrenagens a trabalhar. Estou a falar da Ana Rita Vieira e estou a chamar-lhe enzima e óleo. Talvez a palavra certa, responsável por estas mudanças, seja carisma deixando a físico-química à parte. E é assim que a nossa Rita é. Veio e conseguiu mudar coisas, criar outras e nada mais ficará igual a antes dela.

A paixão que põe nas coisas transparece e contagia os outros e faz-nos acreditar que é possível.

A Rita é muito nova, mas tem uma maturidade apreciável com laivos de irreverência de adolescente, que a tornam cativante. Nem tudo foram rosas para ela e também para nós, mas o saldo final é muito positivo. Aprendemos e ensinamos à Rita e conseguimos gravá-la nos nossos corações que é assim que se eternizam as pessoas. A Rita vai abraçar um novo projeto profissional e isso só demonstra a sua inquietude, a sua vontade de aprender, de inovar, de se superar.

Na Atlas os voluntários são o pilar e o grande ativo, mas quem os coordena e organiza tem o mérito de saber extrair deles o melhor.

A Ana Rita segue o seu caminho e sabe que poderá sempre voltar à sua casa, dado que há muito ganhou também o estatuto de amiga e voluntária.

Que o voo seja grande como a tuas asas e que saibas que poderás sempre pousar por cá na Atlas para retemperar forças e partilhar alegrias e conquistas.

Estarás por aí, ficaremos por cá.


Autora
Helena Vasconcelos
Presidente da Direção da Atlas – People Like Us

Ler Mais

Saudades das festas populares e do nosso Arraial Atlas!

Passou o São João e o São Pedro e faltou o nosso Arraial Atlas, cada ano mais aprimorado! O porco a assar no espeto, as sardinhas, a paelha, as sandes de leitão, o café da avó, os bolos, e ainda os arcos, as flores e as luzes que enfeitam os socalcos… O branco e o vermelho pontilham o jardim, são dezenas de voluntários juntos, cada um dando o seu melhor! 


É um ponto alto do trabalho voluntário, do convívio, da alegria do reencontro, de receber quem se estreia na Atlas.

Neste verão sinto falta dos Arraiais, das Festas Populares… As festas polvilham de cor um fim de semana por cada aldeia, quando alguma da gente que lá cresceu se junta para honrar o Santo Padroeiro e, assim, ter pretexto para estar em festa o dia inteiro! Cozinham-se petiscos do melhor, põe-se a tocar música que toda a gente canta e dança (nem que seja só “nessa noite de verão”) e o espírito rejuvenesce! A energia dos dias grandes e a brisa refrescante das noites de verão trazem o povo para a rua, “só mais dois dedos de conversa” e, quem sabe, um pezinho no bailarico.

Arraial Solidário 2019 da ATLAS People Like Us, Barreira (Leiria)

Nas festas populares perpetuam-se tradições e, assim, estamos em sintonia com as gerações que desbravaram antes de nós. As Festas dos Santos, por exemplo, são celebrações católicas que dão continuidade aos festejos pagãos do solstício de verão. Os festejos assinalavam o dia com mais horas de luz solar, tão importante para o amadurecimento dos frutos e cereais, celebrando a fertilidade da Terra, pois as colheitas surgiriam em breve. Estes rituais de fertilidade chegam aos nossos dias simbolicamente representados no manjerico, planta que os namorados oferecem, um ao outro, com versos de amor. [1]

Se neste verão ainda não podemos viver as Festas com toda a sua expressão, então, que façamos algo que nos mantenha ligados à tradição, cada um ao seu jeito (comprar um manjerico; confecionar o típico bolo em ferradura; escrever quadras aos Santos; cantar música de Arraial; etc.) As tradições mantêm-se pela ação de cada um de nós e são história de um povo que uma geração conta à seguinte.

Ó meu rico São João,
Temos saudades do Arraial

Enche-nos de esperança o coração,
E que no próximo ano haja um sem igual!


[1] https://www.visitportugal.com/pt-pt/no;


Autora
Sofia Carruço
Psicóloga e Voluntária na Atlas – People Like Us, em Leiria

Ler Mais

Como cuidar de um relacionamento em tempo de pandemia?

A pandemia chegou já há mais de um ano e instalou-se uma avassaladora instabilidade em todas as áreas da nossa vida, incluindo nos relacionamentos.

Nos últimos tempos temos sido assoberbados de notícias como: “A quarentena pode fragilizar os casais”, “A quarentena prolongada faz disparar taxa de divórcios”, “Como salvar o meu casamento durante o tempo de pandemia?”… Mas afinal o que está a acontecer? Haverá alguma forma de contrariarmos essa tendência?

Ora vejamos… Anteriormente à pandemia, passávamos dias e dias “embrulhados na correria do dia-a-dia”, queríamos ter tempo para pensar em nós, queríamos ter tempo para pensar nos outros, queríamos ter tempo para parar um pouco e não conseguíamos. Entretanto, a nossa rotina sofreu grandes alterações com a chegada do tão (des)conhecido COVID-19. Foram mudanças que se fizeram sentir em casa, no trabalho, nos nossos relacionamentos interpessoais e entre tantos outros aspetos das nossas vidas.

Em muitos casos, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa, a ter de conviver mais tempo com o seu parceiro, a ter de gerir o espaço em casa entre a presença quase constante dos filhos e o espaço para a intimidade como casal, entre outros desafios.

A presença constante de ambos os membros do casal, a ansiedade, a angústia, a preocupação, o medo do desconhecido, são tudo situações e sentimentos que podem interferir negativamente com o bem-estar do casal.

Durante este tempo, pode verificar-se uma maior predisposição para o aparecimento de conflitos e uma maior dificuldade em estabelecer momentos de maior intimidade.  No sentido de contrariar esta tendência e de fomentar a resiliência de ambos os membros do casal gostaria de deixar algumas dicas e reflexões:

  • Dê espaço ao seu parceiro! Mesmo dentro da mesma casa, é importante que ambos os membros do casal possam ter o seu próprio espaço, os seus momentos a sós… O sentimento de controlo e de “sufoco” só irá agravar os momentos de discussão que possam já existir e outros que nunca existiram e que começam agora a desencadear-se.


  • Não se esqueça de respirar fundo e parar para pensar antes de dar um par de berros, fazer acusações ou assumir uma postura agressiva. Questione-se primeiro interiormente: “Porque me estou a sentir assim?” e “O que eu gostava que fosse diferente?”.


  • A capacidade de tolerância e de autocontrolo são também imprescindíveis nesta fase. Evite os ataques pessoais, evite a escalada de tensão que não tem por onde “explodir” ou que se explodir pode levá-lo a um rumo que não era de todo o que pretendia, mas que não conseguiu controlar a tempo.


  • A capacidade de pedir desculpa é fundamental. Lembre-se, ninguém é perfeito, e tal como você também o seu parceiro está a lidar com uma fase nova de adaptação. Tentem encontrar o melhor projeto de adaptação juntos. Partilhem dúvidas, medos, receios, soluções, planos de vida a curto e a longo prazo …


  • A comunicação pode revelar-se a maior arma terapêutica para os casais durante o tempo de pandemia, tal como durante todos os tempos das nossas vidas. Os casais que já tenham dificuldades de comunicação, poderão nesta fase enfrentar um período ainda mais difícil. Se for o caso, não deixem que chegue a um ponto de não retorno, procurem ajuda especializada.


  • Não se esqueçam que há gestos tão simples como o toque, o abraço e o carinho que conseguem por si só, muitas vezes, “fazer verdadeiros milagres”.


  • Evitem passar horas agarrados às redes sociais; estipulem um horário a partir do qual é proibido agarrar no telemóvel.


  • Mantenham rotinas saudáveis, estipulem os dias para a prática de atividade física em conjunto, um dia por semana para o “o vosso momento romântico” e estabeleçam rituais de relaxamento e conexão.


  • Cuidem da vossa casa em conjunto e partilhem as tarefas domésticas, sendo flexíveis com as 1000 tarefas que possam surgir.

O tempo passado em quarentena tende a intensificar as emoções. Não se esqueça, o segredo de um bom relacionamento tende a estar no equilíbrio. Reinvente a sua forma de amar e de perdoar, encontre um novo equilíbrio, vença novos desafios e descubra momentos únicos que o seu relacionamento ainda tem para lhe proporcionar.


Autora
Catarina Fortunato
Tem 29 anos e é natural da Maceira, com fortes laços familiares com a Marinha Grande. 
É Mestre em Medicina, Catarina é Médica Interna de Medicina Geral e Familiar em Aveiro, dispondo de dupla especialização de Sexologia e Terapia de Casal.

Ler Mais

Do outro lado do mundo

Tinha chegado o momento de concretizar o objetivo de ensinar a língua portuguesa num país pertencente à nossa comunidade linguística. Antes que a idade o impossibilitasse, era hora de fazer um voluntariado diferente. Assim, Timor-Leste, com a sua história comovente, apareceu como oportunidade de cumprir esse desejo. Contribuir para o desenvolvimento de um jovem país com eterna ligação a Portugal era motivo de orgulho e justificava o sacrifício da partida.

Ao chegar a Timor-Leste, é necessário esquecer o que se conhece da vida.

É preciso despirmo-nos de tudo o que julgamos saber e entrar no contexto. Na maior parte das localidades, o pão não se compra; faz-se. Come-se o que há.  Bananas, papaias, maracujás, abacates, anonas, pitaias são vendidos pelos próprios produtores em barracas montadas à porta das próprias casas. Os transportes públicos da cidade de Díli são as “microletes”, carrinhas pequeninas, muito velhas, conduzidas por jovens, com a música aos berros, e tem de se bater com uma moeda no vidro assinalando a intenção de sair. O lixo é queimado, pois não há recolha, e até lá mantém-se em plena rua. Os cuidados médicos são rudimentares e escassos. Não existe indústria nem explorações de agricultura intensiva.

Somos representantes do nosso país; o que um faz reflete-se na forma como a comunidade timorense vê todos os outros e como vê Portugal. O professor é aquele na mão de quem está o futuro dos jovens e do país; é o que detém o conhecimento; é o que deve dar o exemplo. Todas as pessoas nos tratam por “professora” e, dito pelos alunos, parece exprimir um carinho muito grande. Sempre sorridentes, olham para nós com curiosidade e respeito. São jovens irrequietos como todos os outros, mas revelam um grande respeito pelos professores. Muitos desejam vir a ser médicos, engenheiros, informáticos…num país onde escasseiam os empregos. Valorizam muito os livros. Quando um professor lhes oferece ou empresta um livro, sentem-se privilegiados e orgulhosos e tratam o livro com muita consideração.

Sentir Portugal em Timor-Leste | UCCLA
Do outro lado do mundo. Ensinar a língua portuguesa em Timor-Leste

Num lugar onde quase todos os bens materiais faltam, a família é o orgulho de cada um; definem-se pela família a que pertencem. É gente boa que se esforça muito para fazer evoluir o país entre muitas dificuldades.

 Perante tudo isto, fico com vontade de não me queixar de mais nada na vida. Fico com vontade de aproveitar tudo o que de bom houver em meu redor e me fizer feliz e fizer feliz quem o merecer. E, quem sabe, quando a pandemia desaparecer, concretizar, então, o projeto adiado.


Autora
Helena Jesus
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande.

Ler Mais

Autoestima e adultez avançada

Envelhecimento é um processo que dura toda a vida e não uma fase ou uma etapa.

O autoconceito é a perceção que o individuo tem de si. É o que cada um pensa e conhece de si.

O envelhecimento como a autoestima são conceitos que fazem parte do processo desenvolvimental. Não existe uma autoestima para a fase da adultez avançada existe só autoestima e existem adultos.

Começando por esclarecer a noção de autoconceito.

O autoconceitopode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos que se referem ao self enquanto objeto. Não é necessariamente uma visão “objetiva” do que somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal como nos percecionamos. O autoconceito está associado à noção de autoestima. Autoestima é o grau com que o sujeito gosta de ser como é. “A autoestima corresponde aos aspetos avaliativos e emocionais do indivíduo” (Fachada, 2006, p. 123). Então estes dois conceitos, autoestima e autoconceitos, ou seja, o quanto gosto de mim e o que perceciono que sou, revelam-se fundamentais para a definição do nosso comportamento. Então, adultos com elevada autoestima são sociáveis e populares com os outros, confiam mais nas suas próprias opiniões e julgamentos e estão mais seguras das perceções de si próprios. Quando avaliados a nível psicológico são pessoas mais saudáveis e mais adaptadas e sofrem menos de stress quando confrontados com situações de ansiedade, perda, etc. Contrariamente pessoas com baixa autoestima são pessoas infelizes e vêem-se como fracassadas. Abandonam facilmente os desafios, são pessoas ansiosas e com forte sentimento de culpa e são consideradas por si mesmas como incompetentes.

Este processo de definição do que sou e do quanto gosto de mim, processo de aprendizagem, ocorro ao longo da vida e é fortemente influenciado pela forma como significamos os acontecimentos da vida, existindo uma relação entre aprendizagem e comportamento.

Psicoterapia na terceira idade – Psicóloga Bilaine Lima
Autoestima e adultez. “Então estes dois conceitos, autoestima e autoconceitos, ou seja, o quanto gosto de mim e o que perceciono que sou, revelam-se fundamentais para a definição do nosso comportamento.”

O cérebro humano é, um órgão altamente especializado para a adaptabilidade e a resiliência que se molda e se constrói para capacitar a pessoa. É a partir da interação e da interdependência, que o cérebro constrói as suas estruturas para se adaptar aos contextos com que se vai deparando, e para ganhar habilidade para se adaptar a esses contextos, numa permanente alternância entre sentimentos de ressentimento e de recompensa, onde a reparação intersubjetiva tem um papel mediador. Mas para que este movimento reparar se perpetue é necessário que seja alimentado por novas relações intersubjetivas de boa qualidade. A interação e a interdependência que cada cérebro tem com os outros cérebros, bem como, a sua plasticidade que se prolonga ao longo de toda a vida, são a fonte de regulação neurobiológica do crescimento psíquico e da saúde mental (VASCONCELOS, 2017). Esta ideia sobre o cérebro social e de como este se desenvolve esclarece alguns aspetos do desenvolvimento psicossocial na vida Adulta avançada. Falamos da família, dos amigos e dos projetos que queremos desenvolver nesta fase. Assim, podemos ter novos amigos ou mesmo acrescentar novas pessoas ao nosso ciclo familiar.

Os estereótipos levam-nos a acreditar que a adultez avançada é um tempo de solidão e isolamento: as pessoas na idade da reforma são pessoas mais isoladas. No entanto os estudos desenvolvidos nesta área falam que 9 em cada 10 adultos atribuem maior importância à família e aos amigos para desfrutarem uma vida repleta de significado e motivação, ou seja, nesta fase mantêm níveis de apoio social, identificando os membros do seu círculo social que podem ajudá-los e, afastam-se daqueles que não lhe dão apoio.

É importante referir que nesta fase do desenvolvimento as pessoas tornam-se mais seletivas. 

Escolhem estar com as pessoas e nas atividades que respondem às suas necessidades emocionais imediatas. Tendem a ter o mesmo relacionamento íntimo que nas fases anteriores do desenvolvimento e a sentir o mesmo grau de satisfação, ou seja, necessitam na mesma dos amigos e afastam-se das pessoas que os aborrecem.

Os seus sentimentos pelos amigos são tão fortes quanto os dos jovens adultos e os sentimentos positivos em relação à família são mais fortes (Papalia, 2013). Assim, os que têm mais amigos nesta fase do desenvolvimento são mais saudáveis e felizes. Nesta fase, os adultos mantêm os seus confidentes. Falam com eles dos seus sentimentos, dos seus pensamentos e estes relacionamentos tendem a melhorar com as mudanças e as crises de envelhecimento. Os amigos de longa data podem perdurar, até idades mais avançadas, mas as pessoas na idade avançada fazem novos amigos e revelam-se amigos com afeição e lealdade (Papalia, 2013).

Em síntese esta é uma fase da vida em que os adultos sentem necessidade dos seus amigos e devem ser estimulados a estar com pessoas com quem podem comparar-se e que servem de apoio, desenvolvendo de forma correta o seu autoconceito e a sua autoestima.

Partilha de referências:

  • Fachada, O. (2006) Psicologia das Relações Interpessoais. Editora Rumo.
  • Papalia, D. (2013). Desenvolvimento Humano, 12ª ed. Artmed.
  • Vasconcelos, A. (2017.) O Cérebro Social: Compreendendo o Cérebro como um Órgão Social. Interações: Sociedade e as novas modernidades. 32 (6) 34-52.

Autora
Mª João Santos
Mestre em Psicologia Clínica e Doutorada em Psicopedagogia da criança pela Universidade do Minho. Atualmente docente no IPLeiria.

Ler Mais

Quando o “Não” é para banir

Por incrível que pareça aos oitenta e quatro anos fui convidada para fazer parte de um projeto que me era totalmente desconhecido e em tudo diferente daquilo a que estava habituada. 

Aceitei porque quase bani do meu vocabulário a palavra «não».

Acho-a uma palavra demasiado forte e só a uso em situações extremas. Prefiro substituí-la por um sorriso.

Devo dizer que não fazia ideia do que me esperava. Aceitei e gostei. Foi aí, nesse projeto, que tive verdadeira consciência de que é: no dar que se recebe e que se recebe sempre mais do que aquilo que se dá. 

Eu saía para ir fazer companhia a quem estava só, mas verdade é que eu também beneficiava dessa companhia. Entretanto surgiu a pandemia, diminuíram as visitas, foram aparecendo elementos novos e cessei as minhas atividades.

De qualquer modo continuo na retaguarda pronta para o que seja preciso dentro das minhas possibilidades e capacidades.

Conheci pessoas maravilhosas, além das que já conhecia, tanto utentes como cuidadoras, que muito admiro e que vieram aumentar o meu grupo de amigos.

Recordo aqui alguns encontros que ficaram para sempre na memória. Bem-haja a todas e a todos. Um abraço de profundo reconhecimento. Convosco fiquei mais rica. 


Autora
Maria Fernanda Alegre
Voluntária do Projeto Velhos Amigos, nasceu a 6 de julho de 1933, no concelho de Condeixa a Nova. Fez o curso no magistério primário. Depois de se reformar, tem-se dedicado ao voluntariado.

Ler Mais

Projetos de Vida Sénior

A reforma é o merecido descanso de uma vida de trabalho, de correrias, de preocupações.


Há aquele alívio de que vamos finalmente descansar. Assim sendo, parece ser realmente o ideal, talvez durante uns tempos.
No entanto, quando a inércia toma conta de nós, tudo começa a ficar mais complicado. Não há rotinas, não há horários, não há a conversa habitual com as amigas e tudo se torna mais monótono. Há que arranjar algo que nos ocupe de novo, mas agora sem pressas nem compromissos rigorosos.
Depois de algumas pesquisas, encontrei a Projetos de Vida Sénior, fui ver do que se tratava, gostei e inscrevi-me.
Tudo mudou! Passou a haver de novo tempo para tudo, senti-me de novo ativa. Convivemos, aprendemos, fazemos exercício físico e mental, fazemos visitas temáticas e passeios pelo país e até pelo estrangeiro. Fiz novos amigos e reencontrei outros com quem há muito não convivia. De realçar ainda os extraordinários professores que dão o seu tempo e partilham o seu saber voluntariamente, dando-nos também muito da sua simpatia e amizade.

Projectos de Vida Sénior é uma Universidade Sénior da Marinha Grande, um projecto de aprendizagem informal dirigido a maiores de 50 anos. Saibe mais aqui.


A “Universidade Sénior” foi verdadeiramente algo de bom que me aconteceu. Foram três anos maravilhosos que me enriqueceram a todos os níveis.


Digo três anos porque ganhei, finalmente, o estatuto de avó! Esta era a etapa que faltava na minha vida e eu queria desfruta-la ao máximo.
Ponderei e evidentemente optei por ajudar a criar o meu neto. Interrompi então a minha passagem pela a Universidade, convicta de que iria voltar. Não foi possível, até à data, porque voltei, de novo, a ser avó.
Mantenho, no entanto, a esperança de voltar porque não há prazo para aprender e para ser feliz.


Autora
Cidália Carvalheiro
Voluntária do Projeto Velhos Amigos na Marinha Grande. Natural de Viseu, tem 71 anos, é casada há 50 anos, tem dois filhos e dois netos.

Ler Mais

Voluntariado, um altruísmo egoísta

O voluntariado é um exercício de cidadania, de solidariedade e contribui para a realização pessoal de quem o pratica. Definido como “um ato livre, gratuito e desinteressado, oferecido às pessoas, às organizações, à comunidade ou à sociedade” (Paré e Wavroch, 2002:11), o reconhecimento da importância da prática tem vindo crescer, note-se o estabelecimento do ano internacional do voluntariado (2001), o assinalar do dia internacional dos voluntários (05 de dezembro), bem como a criação de programas de voluntariado.

A Organização das Nações Unidas realça a importância do voluntariado pelo seu papel no “reforço da coesão social e económica, gerando capital social, promovendo a cidadania ativa, a solidariedade e uma forma de cultura que põe as pessoas em primeiro lugar”.

O voluntariado desempenha uma função muito importante no apoio ao estado, e às organizações do terceiro sector, que não conseguem dar resposta a todas as situações. É uma forma de participar na transformação social e um meio de participação cívica dos cidadãos, onde o indivíduo procura dar um contributo para tornar a sociedade melhor, mais inclusiva, mais igualitária, respeitando e agindo de acordo com os direitos de todos os seres. É uma prática que deve ser incentivada e impulsionada (tendo aqui a educação um papel fundamental) para que se torna parte integrante da cultura.

“Dar e receber
devia ser a nossa forma de viver”

  • António Variações

Faço voluntariado há vários anos, e recomendo! Faço-o com pessoas, faço-o com animais, faço-o por mim. Na minha opinião o voluntariado assenta na premissa dar e receber, tal como diz a canção do António Variações “dar e receber devia ser a nossa forma de viver”. Dou um pouco do meu tempo e da minha atenção e em troca recebo sorrisos e estima.

Voluntária do Projeto Velhos Amigos da ATLAS, na Marinha Grande.

As motivações para o voluntariado são também alvo de um crescente interesse por parte da comunidade académica que tem vindo a desenvolver vários estudos para compreender os motivos que levam os indivíduos a desenvolverem a atividade de voluntariado, e a permanecer na prática por longos períodos; bem como estudos de caraterização da prática do voluntariado (em Portugal – Delicado, 2002; Amaro et al, 2012; Serapioni, Ferreira e Lima, 2013). Os estudos sobre a motivação para o voluntariado são efetuados com base na aplicação de vários instrumentos, nomeadamente o inventário de funções do voluntario que identifica várias categorias: as pessoas tornam-se voluntárias para expressar os valores (altruísmo), para desenvolver habilidades /aprendizagem, por motivos relacionados a carreira (ganhar experiência profissional), para proteger o próprio self de sentimentos de culpa, para crescimento/desenvolvimento pessoal, pela possibilidade de socializar com outras pessoas.

Vários autores (Delicado, 2002; Cnaan e Goldberg-Glen, 1991) consideram que as motivações para o voluntariado tanto podem ser de carácter altruísta como de carácter egoísta, uma vez que a sua pratica contribui, pelas experiências vividas e partilhadas, para o crescimento pessoal. Importa também referir que diversos estudos realizados juntos de voluntários apontam para a perceção de benefícios como uma melhor saúde física e mental, bem como níveis elevados de bem-estar subjetivo.

Sê tambem voluntários na ATLAS – People Like Us. Sabe mais clicando aqui.

Autora
Cláudia Marinho
Socióloga, Investigadora Social em temas como migrações, juventude, delinquência juvenil. Voluntária na ATLAS, no Projeto Velhos Amigos.

Ler Mais