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Idadismo – A discriminação Invisível (Parte II)

Dada a existência de lacunas no que à legislação internacional sobre os
direitos dos idosos diz respeito, tanto os Estados individuais foram obrigados a
inserir tal proteção nas suas próprias Constituições, como a União Europeia
tem adotado alguma legislação e estimulado alguns desenvolvimentos no que
a esta temática diz respeito. Vejamos alguns exemplos.es
Quanto à discriminação no emprego, a União Europeia adotou a Diretiva de
Igualdade no Emprego, que inclui uma cláusula de não discriminação em
função da idade. Contudo, esta diretiva, ao visar o mercado de trabalho, torna-
se essencialmente relevante para os indivíduos que se aproximam dos seus
anos pós-emprego ou com idades pouco superiores a 50 anos. Ainda assim, no
essencial, a diretiva proíbe a discriminação direta em razão da idade que não
seja justificada por um objetivo legítimo e que seja atingida
desproporcionadamente em relação ao objetivo, e nesse contexto,
representará sempre um avanço.

Tal estipulação deu o mote para a estatuição de um verdadeiro princípio da
proibição da discriminação com base na idade dentro das fronteiras da União
Europeia, o qual representa, em si, um exemplo de legislação anti-idade.
Neste contexto, torna-se necessário abordar a questão da reforma obrigatória.
Coloca-se a questão se saber como é possível que o que parece ser
discriminação por idade no emprego possa ser uma tomada de decisão
legítima e proporcional necessária, isto é, se a imposição de uma idade
obrigatória para reforma choca ou não com a proibição anti-idade referida
acima. A esta questão, o Tribunal de Justiça da União Europeia foi
respondendo, ao longo dos anos, negativamente, uma vez que a estipulação
de uma idade específica para reforma obrigatória procura, primeiramente,
evitar a rescisão de contratos de trabalho em situações humilhantes para os
trabalhadores devido à sua idade avançada, acrescentando, ainda, que o limite
de idade deverá refletir o consenso político, social e demográfico daquele país.
Numa outra linha de pensamento, através de várias sentenças do Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem que envolvem pessoas idosas, no sentido de
estudar as questões jurídicas substanciais mais levantados, foi possível
identificar algumas questões que mais têm motivado o recurso aos tribunais
judiciais pelos idosos.
O principal problema identificado está associado a um elevado número de
casos em que se discute o tempo razoável para obter justiça e reparação
judicialmente, ou, por outras palavras, problemas de duração excessiva de
processos judiciais em que os idosos se vêm envolvidos, não sendo tomada
qualquer diligência especial por força da sua idade.
O quadro descritivo geral aqui apresentado torna evidente a necessidade de
maior investigação e debate sobre que mecanismos ou iniciativas específicas
deverão ser adotadas, sendo óbvio que o trabalho realizado se encontra muito
aquém do que a problemática social exige. Para que exista uma sociedade
onde todos possam participar e interagir de forma tolerante, princípios como a
dignidade, independência e assistência, referidos inicialmente neste artigo,
devem ser conhecidos desde os primeiros anos de vida de qualquer indivíduo.

A responsabilidade no combate ao idadismo deverá ser da sociedade civil
como um todo, num esforço conjunto das suas várias instituições.

Autora:

Joana Costa Santos

Voluntária na Marinha Grande. Jurista.

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Natal – Tempo de Agradecer

Esta época do ano é altura de festejar, mas também de balanço e de projectos para o Novo Ano.

Atlas significa Natal o ano inteiro, significa atenção ao outro e determinação a fazer o melhor pelos outros. Para quem faz acontecer Natal o ano inteiro vai a minha mensagem.

Aos nossos parceiros o nosso reconhecimento sentido. Obrigada pela confiança, pela aposta e por estarem ao nosso lado nesta tarefa de fazer a vida de outros mais completa, mais feliz. Nunca será demais lembrar-vos como são incríveis, e como conseguimos juntos fazer a diferença na vida de muita gente. As empresas, as fundações, os mecenas e os restaurantes solidários representam a nossa matéria-prima que transformamos em reservas de felicidade que distribuímos aos nossos beneficiários.

Aos nossos voluntários mil palavras de reconhecimento. Vocês são a Atlas, sem vocês isto não existiria e não passaria de uma ideia maluca de alguns. Todos os agradecimentos serão parcos se comparados com a vossa postura, abnegação, dedicação e profissionalismo. As minhas desculpas por não vos agradecer mais vezes, por não vos fazer sentir importantes como merecem. Tenho um orgulho enorme em todos vós e já que estamos em época de reflexão quero pedir-vos que coloquem nas vossas intenções e resoluções para 2023 a continuação da colaboração com a Atlas. Podem vir mais, mas não abdicamos dos que cá estão.

Festas Felizes para todos os obreiros do Natal todo o ano.

Autora:

Helena Vasconcelos

Presidente da ATLAS. Voluntária nos Velhos Amigos em Leiria

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Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal…
Este ano peço-te apenas o essencial:
A família unida à volta da mesa, sorrisos ilimitados e partilhados com pessoas especiais, momentos bons e fraternos, muito amor para dar e receber, saúde para mim e para os meus, para que possamos viver muitos anos e partilhar tempo precioso e de qualidade, paz no mundo inteiro, mais igualdade, menos discriminação, exclusão e marginalidade.
Que o Natal nos encha o coração de luz e coragem.
Que o nosso coração se encha também de solidariedade, e que a nossa bondade seja transformadora na vida de alguém. Um amigo/a, um companheiro/a, um parente ou alguém especial.
O Natal faz referência a uma época, mas na minha opinião, é muito mais do que isso. Podemos agarrar nessa magia natalícia e transportá-la para o nosso dia-a-dia, com ações, palavras ou sentimentos positivos.
Pai Natal, enche de amor e paz as casas de famílias necessitadas. Oferece companhia e amor a quem está só e abandonado.
Um Santo e Feliz Natal para todos!

Autora:

Rafaela Pereira

Voluntária nos Velhos Amigos na Marinha Grande

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Natal em São Tomé

Quando pensamos no Natal, imediatamente associamos, para além do nascimento do Menino Jesus, o frio, o aconchego, a família, as luzes e os presentes. E quase não conseguimos imaginar que possa ser vivido de outra forma para além daquela que conhecemos. E se não houver frio? E se não houver presentes? E se as luzes de Natal não existirem? E se a família for imensa e não houver um espaço onde caiba toda?

Em São Tomé não há frio. Muito pelo contrário, o Natal acontece numa época do ano em que a temperatura aumenta. O aconchego é, por isso, mais de ordem emocional, pois não existem as tradicionais lareiras à volta das quais se reúne a família. As luzes de Natal, compradas na loja do chinês, espalhadas pela cidade, são ligadas todos os dias do ano, quando há energia elétrica, e servem de iluminação pública. Os presentes existem nas famílias mais abastadas, mas nas outras é algo em que não se pode pensar. E nas ruas não há enfeites, presépios, árvores e músicas de Natal.

Mas a família…tem membros a perder de conta e, sempre que possível, junta-se para partilhar a refeição do dia de Natal. No entanto, o problema é como reunir tanta gente. Problema? Xé, problema! Sobem todos para a carroçaria de um camião, levam bancos, panelas, toalhas, pratos, talheres, ingredientes, pratos já confecionados, e instalam-se numa praia. Aí cozinham o que falta, nomeadamente o peixe, a banana e a fruta-pão grelhados e festejam à volta da mesa, com música africana em volume quase proibitivo. Levam pratos tradicionais tais como o calulu, feijoada da terra, feita com peixe seco, caril, cachupa, bebidas e alguns doces. Há histórias contadas pelos mais velhos e o espírito africano não resiste à dança. As crianças correm de um lado para o outro e pode até haver um banho no mar.

O mundo é apenas um, cheio de diversidade, de tradições e hábitos diferentes. Tudo isso só nos enriquece enquanto seres humanos e abre-nos horizontes para valorizarmos a vida, o amor e a paz. Pena é que o excesso de algumas sociedades não possa ser partilhado com a escassez de outras.

Autora:

Helena Jesus

Voluntária nos Velhos Amigos

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Natal

Natal, natalidade, nascimento. Todas estas palavras têm o mesmo significado. Daí chamar-se Natal ao nascimento de Jesus. Quando? Não há registo mas convencionou-se que seria no dia 25 de Dezembro.

Mas também se diz que Natal é todos os dias. O Natal é quando o Homem quiser. E, para mim faz sentido. É Natal quando estamos tristes e pedimos a ajuda de Jesus, é Natal quando estamos alegres e agradecemos a Jesus, é Natal quando as pessoas à nossa volta estão felizes, é Natal quando contribuímos para a felicidade do outro…

Se assim não fosse não teria havido Natal para mim e para muitas crianças da minha idade. Não havia Presépio, não havia árvore de Natal, não havia sapatinho na chaminé porque o Menino Jesus não dava presentes Nem, tão pouco, havia Pai Natal. Creio que nessa altura ainda não era conhecido.

Mas havia Natal, sim! A minha Mãe fazia as broinhas, arroz doce, leite creme e sonhos de abóbora. E como eu gostava de ver amassar as broinhas e, depois, ajudar a estendê-las numa xícara polvilhada de farinha! O leite creme era feito num fogareiro de brasas para ferver devagarinho e não talhar. O arroz doce era ao lume (não havia fogão) e sempre a mexer.

Sim, havia Natal. O Menino Jesus já nascia no dia 25 de Dezembro, já estava entre nós. Talvez até mais presente do que está agora. 

Que continue a haver Natal para todos nós. Boas Festas e Feliz Ano Novo!

Autora:

Fernanda Alegre

Voluntária nos Velhos Amigos em Pombal

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E de Novo o “Chá das Cinco

No próximo dia 5 de novembro vamos recomeçar o “Chá das Cinco”.

Esta iniciativa, em Coimbra, começou em dezembro de 2015, então com uma parceria com o salão Brasil e com o entusiasmo da Catarina Pires do salão e da Natália Antunes nossa técnica de altura. Inicialmente com a periodicidade de um sábado por mês, levámos os nossos idosos e voluntários a visitar monumentos, museus ou galerias ou então com momentos musicais.  Ouvimos poesia. Terminava sempre com lanche. Passámos pelo museu Machado de Castro, Convento São Francisco, Convento Santa Clara a Velha, Seminário Maior, café galeria Santa Clara, salão Brasil, café Santa Cruz…

Tudo isto foi interrompido em 2020. Por quê recomeçar?

Porque é importante levar os nossos idosos a saírem de suas casas, a quebrar a rotina, a conhecerem outras pessoas. Porque é importante os nossos voluntários se reunirem e verem como pequenas coisas tornam os outros felizes.

No dia 5 vamos revisitar a igreja do Seminário Maior de Coimbra. Ela foi restaurada e está muito bonita. Teremos também um momento musical (e guitarra!).

Não percam esta oportunidade. Apareçam!

Autora:

Raquel Pina

Vice-Presidente da ATLAS. Voluntária nos Velhos Amigos em Coimbra.

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O Momento em que a Alimentação Começa a Definir a Nossa Longevidade

“Em que momento a alimentação começa a definir a nossa longevidade?”

Foi com esta questão que a Professora Cátia Pontes, Professora Adjunta da Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria e Coordenadora da Licenciatura em Dietética e Nutrição, iniciou o Encontro ao Serão sob o mote “Viver bem até aos cem”. Foi no passado 19 de outubro no Edifício da Resinagem da Marinha Grande, aonde ocorrerem 48 voluntários da Atlas.

Começámos por ser surpreendidos com a importância dos primeiros 1111 dias das nossas vidas, que começam na pré-conceção e vão até ao 2º ano pós-parto. Estes 1111 dias dizem-nos que há uma programação metabólica nesta fase que terá impacto na nossa saúde muitos anos depois. E foi-se falando da alimentação ao longo das diferentes fases do ciclo de vida desde a adolescência, que é um ponto crítico para a prevenção da osteoporose, passando pela menopausa, período em que diminui o metabolismo basal pelo que se deve diminuir a ingestão de alimentos, e chegando até aos centenários. Indagada a plateia com a questão: “O que é que caracteriza os centenários?”, a preletora deu-nos a resposta:

  1. Estilo de vida ativo;
  2. Habilidade natural para combater o stress;
  3. Predisposição genética;
  4. Baixo consumo calórico.

Então não é que os mais longevos comem menos do que precisam? De facto, as comunidades mais longevas do planeta (Península Nicoya – Costa Rica, Okinawa – Japão, Sardenha – Itália, Loma Linda – Califórnia) têm hábitos alimentares comuns, como baixo consumo de proteína animal em detrimento de maior ingesta de frutas, hortícolas, leguminosas e frutos oleaginosos. Além disso, estes longevos centenários têm atividade física diária, sem tabaco, têm uma vida espiritual e uma vida social.

Acabámos a falar da Roda dos Alimentos Mediterrânica, um padrão alimentar que, a ser seguido, nos faz viver mais anos.

Gostei muito deste Encontro ao Serão: da abordagem do tema, da preletora que nos fez estar atentos do princípio ao fim, e dos voluntários da ATLAS que se mostraram atentos e muito participativos no momento final aberto à discussão da plateia.

Lanço aqui o repto aos voluntários e amigos da Atlas da área das Ciências da Nutrição a participarem como preletores de outro Encontro ao Serão ou como articulistas da newsletter da ATLAS, agora que se encontra em discussão pública o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável 2022-2030.

Trata-se de uma aposta na promoção de uma alimentação saudável e na modificação dos comportamentos individuais, de modo a que nos tornemos ci­dadãos mais capazes de fazer escolhas alimentares saudáveis. Quem agarra os desafios?

Autora:

Irene Primitivo

Membro da Direção da ATLAS. Voluntária nos Velhos Amigos em Leiria

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Cidadania e Alimentação

A alimentação foi um tema central no mês de Outubro (o Dia Mundial da Alimentação ocorreu a 16/10). Muito tem sido feito para sensibilizar as pessoas para uma alimentação saudável. Agora, acresce outro foco de sensibilização: tornar evidente o impacto dos nossos hábitos de consumo alimentar na Ação Climática, na Proteção da Vida na Terra, na Produção Sustentável e na Erradicação da Fome. Estes são objetivos mundiais, definidos pelas Nações Unidas, para serem alcançados até 2030 (num total de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, https://ods.pt/ ).

Então, de que forma os meus hábitos alimentares podem contribuir para minimizar alterações climáticas? E para a valorização de ecossistemas? E para reduzir a produção de resíduos? 

É incrível que, a nível mundial, quase um terço de toda a alimentação produzida, num ano, não é consumida! Para além da consequência mais direta, que é o desperdício alimentar, há muitas outras implicações:

– desperdício de água (por exemplo, no cultivo de legumes que não serão vendidos, porque estão com folhas partidas ou ruídas);

– energia desaproveitada (por exemplo, na fábrica, ao produzir um iogurte que não será consumido, porque já no nosso frigorífico ficou fora de prazo);

– gases nocivos lançados para a atmosfera (por exemplo, emitidos pelo avião que transporta frutas tropicais que não serão compradas, porque chegam ainda verdes ou maduras demais e, no supermercado, acabam por se estragar);

– resíduos que têm de ser tratados e que consistem “apenas” em comida desperdiçada.

É necessário estarmos conscientes das várias etapas da Cadeia de Abastecimento Alimentar e pensarmos nos recursos usados em cada etapa. Só assim, poderemos, de forma ativa:

  1. Prevenir perdas de alimentos
  2. Dar preferência à compra de alimentos de produção local
  3. Comprar frutas e legumes que possam ter aspeto “feio”
  4. Minimizar o desperdício alimentar:
  5. Colocar no prato a quantidade suficiente (evitar “ter mais olhos que barriga”) e no restaurante pedir a dose que se consegue comer;
  6. Fazer aproveitamento das sobras das refeições;
  7. Comprar quando temos intenção de consumir em vez de “acumular”;
  8. Estar atento aos prazos de validade.

Há uma parte de responsabilidade individual no que acontece “desde o prado ao prato”. Isso é cuidar da Terra, a partir de casa.

Autora:

Sofia Carruço

Psicóloga e Voluntária na Atlas em Leiria.

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Bairro Feliz

Há momentos que valem a pena mesmo quando os resultados não são felizes. E foi isso que aconteceu com o projecto Bairro Feliz do Pingo Doce.

A Atlas esteve envolvida em dois projectos em duas lojas, uma em Pombal e outra em Leiria. Em nenhum dos dois fomos vencedores. Isso pouco interessa porque todo o afinco que a família Atlas mostrou valeu mais do que a vitória. Foi tão bonito ver o empenho de todos os voluntários e nossos amigos, a postura elevada de todos nós perante os nossos adversários. As moedas vieram de todo as cidades onde a Atlas está a trabalhar. Não foram suficientes no final, mas toda esta dinâmica demonstrou que somos capazes de mobilização, de união, de sentido de pertença.

Parabéns ao Pingo Doce pela iniciativa. Parabéns aos vencedores.

Obrigada voluntários. Muito orgulho em pertencer a esta família.

Autora:

Helena Vasconcelos

Presidente da ATLAS. Voluntária nos Velhos Amigos em Leiria.

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Retalhos de uma Vida

Tem 82 anos e está amargurada numa cama de ferro, afundada no meio do colchão, de onde se levanta com o auxílio do filho de 51 anos, que vive e trata dela. Recebe uma reforma de 260 € e o filho, obeso por força de alguma inatividade e da alimentação possível, faz alguns biscates de construção civil,

Casou e enviuvou prematuramente, aos 36 anos, com seis filhos nos braços e à mesa.

Não sabe ler nem escrever porque, aos 14 anos e no tempo da ditadura, já partia pedra para pavimentar a estrada que vai da Cova ao cimo da serra.

Vive, por ironia, no caminho da Cova de Cima, no mesmo casebre de há 50 anos, com sala de jantar, dois minúsculos quartos inabitáveis, o quarto onde dorme o filho, e a cozinha.

É a construção mais despojada e triste da cidade, com paredes de tijolo simples e telha sobre estrutura de madeira com forro de “platex”. Aos 38 graus no exterior correspondem, pelo menos, 42 no interior. No inverno imagina-se o frio e a humidade.

Mas, nesta crueza, pode ser transportada para uma cadeira no fim dos dias da alta primavera e verão, onde fica a sonhar e talvez chorar, com a belíssima tela do Atlântico quase eterno aos pés.

A infância e a adolescência transformaram-na numa lavradeira à hora, de quinta em quinta, de quintal em quintal, um dos quais foi o dos meus pais, onde aparecia logo de manhã, sorridente, com olhos azuis de outro mundo, chapéu de palha e botas de borracha.

Quando a visito, recorda, com saudades, os meus pais, e fica comovida quando a beijo no rosto marcado por inúmeras feridas do carcinoma de pele de que o chapéu não salvou.

Paga 100 euros de renda por ano e acaba de receber uma carta a atualizá-la para 50 por mês, com a velada ameaça de despejo.

A nossa democracia, de quase meio século, é incompatível com este abandono cruel.

                                         Até sempre Dª Rosa.

Autor:

João Nina

João Nina, nasceu em Angola em 1951. Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo IST/UL em 1975, pós-graduação em Engenharia Humana pela Universidade do Minho.

Professor do ensino secundário, V.N. de Azeitão. Técnico do GAT do Vale do Lima, da CCDRN e da UM. Sócio-gerente da empresa de engenharia Domotec.

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